
Embarque nesse Carrossel e boa sorte para sair dele
- 23 de abril de 2025
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- Theillyson Lima
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Carrossel se destaca como um remake de novela infantil que fez sucesso na televisão brasileira e no streaming.
Raíssa Oliveira
Os dilemas de uma menina rica e mimada em uma escola pública, um orfanato que parece uma colônia de férias e gêmeas separadas na maternidade que se encontram cantando em um palco. Quem consegue identificar um produto audiovisual apenas por essas premissas, certamente fez parte de um grupo que passou a infância assistindo novelas infantis do SBT. E a melhor parte é que reconhecer essas histórias não denuncia a idade de ninguém, afinal, Carrossel, Chiquititas e Cúmplices de um Resgate tiveram seus remakes e muitas reprises, fazendo com que suas histórias sejam contadas para diferentes públicos ao longo dos anos.
Uma ideia que deu certo
Apesar de críticas recorrentes de que essas novelas infantis reciclam tramas já conhecidas, os números comprovam que atraíram grande audiência — talvez distante do conteúdo que você consome, porém, ideal ao público para qual os produtos foram pensados e produzidos. A história original de Carrossel já havia causado impacto ao ser dublada e exibida no Brasil originalmente em 1991, conquistando tanto sucesso que ganhou duas reprises sequenciais. O fenômeno foi expressivo a ponto de a Globo precisar adotar medidas emergenciais após registrar uma queda repentina nos índices de audiência diante do crescimento da rival SBT.
Com tanto sucesso gerado a partir de um único roteiro, a emissora decidiu adaptar a novela mexicana especialmente para o público brasileiro em 2012. A ideia foi certeira, fazendo com que Carrossel conquistasse todo o país e fosse além, sendo exibida em cerca de 90 países e reprisada quatro vezes na telinha brasileira. O enredo da história é antigo, porque nasceu na Argentina com a telenovela Jacinta Pichimahuida, la Maestra que no se Olvida e ganhou visibilidade internacional com a versão mexicana. Íris Abravanel foi a responsável por trazer a história de volta ao centro das atenções e ela acertou em cheio, segundo as estatísticas.
Além dessa história de sucesso mexicano, Argentina e Brasil fecharam uma grande parceria ao gravar a novela Chiquititas e transmitir aos brasileiros no ano de 1997, baseada em uma telenovela argentina de mesmo nome. Enquanto a novela original estava sendo gravada, o SBT firmou parceria com a emissora argentina Telefe e a brasileira também foi gravada em Buenos Aires, para aproveitar os cenários e equipes já disponíveis e diminuir as despesas. Chiquititas ganhou uma segunda versão para o Brasil em 2013 a fim de substituir Carrossel. Essa versão mais recente também fez bonito e conquistou a audiência, garantindo espaço na programação com nada menos que três reprises.
No catálogo do streaming
“Cúmplices de um Resgate salva audiência de novelas do SBT no dia”. À primeira vista até pode parecer que a notícia faz referência à estreia da novela, mas é apenas mais uma das reprises do remake da história mexicana Cómplices al Rescate, exibida no Brasil em 2002 e que continua passando por cima de roteiros originais da emissora, como explicado na nota.
Esse dado não revela necessariamente que as novelas inéditas da emissora são ruins, mas a exposição das crianças às telas e a forma de consumo atual tem alterado os números de audiência na televisão aberta significativamente. Em 2021, por exemplo, o sucesso mundial da Netflix foi Round 6, porém, no Brasil, novelas infantis ofuscaram a produção. Em 2023, foi divulgado o ranking das produções brasileiras com maior engajamento no streaming e as histórias infantis do SBT que constam no catálogo ocuparam as cinco primeiras colocações.
A eterna Maria Joaquina e os elencos queridinhos pelo público
Larissa Manoela é um nome de sucesso quando se fala sobre remakes infantis brasileiros, consolidando a sua carreira como Maria Joaquina em Carrossel. Poucos anos depois voltou a brilhar em Cúmplices de um Resgate como protagonista, dando vida às gêmeas Isabela e Manuela, um desafio em dose dupla que evidenciou ainda mais o seu talento. Nessa novela ela arrastou o público que gostava da personagem anterior para a nova produção e ajudou os cúmplices a também garantirem altos índices de audiência.
A atriz também era celebridade para o público infantil quando estava fora das telinhas, tanto que o término com o seu par romântico de Cúmplices de um Resgate, que também era seu namorado na época, mobilizou as redes sociais e deixou as pessoas que eram apaixonadas pelo casal implorando pelo retorno do relacionamento.
O SBT observou esse contexto como uma oportunidade para ganhar audiência, novamente, com Larissa Manoela, ressuscitando o casal em 2019 na novela As Aventuras de Poliana, garantindo uma continuidade de apelo emocional e proporcionando ao público uma vivência do que já tinha acabado na realidade. Isso prova cada vez mais que uma novela impulsiona outra e é a audiência que guia o rumo dos roteiros, da escolha do elenco e do que merece continuar vivo nas memórias dos telespectadores.
Um outro cenário de aproveitamento de atores emblemáticos foi percebido recentemente na novela A Caverna Encantada, responsável pelos piores índices de audiência infantojuvenil da história da emissora. Para recuperar esse público, SBT decidiu adotar medidas drásticas com a participação de personagens de sucesso em Carrossel na atual novela da emissora. Artistas queridinhos pelo público em Chiquititas e Carinha de Anjo também participaram da estratégia e compuseram o elenco na tentativa de salvar a audiência.
A versão brasileira original de Chiquititas também fez sucesso e alavancou muitas carreiras, fazendo com que até hoje Fernanda Souza seja lembrada como Mili e Carla Diaz a pequena Maria do orfanato Raio de Luz. Débora Falabella e Bruno Gagliasso também iniciaram suas carreiras nessa novela e hoje possuem renome no cenário audiovisual.
Infância brasileira em looping
Nessas adaptações de novelas estrangeiras para o público brasileiro, o remake cumpre um papel essencial de aproximar a história da realidade das crianças que consomem o produto. Mais do que assistir sem precisar de dublagem, essas versões nacionais recriam cenários, costumes e dinâmicas familiares que o público se identifica mais, o que torna a experiência mais envolvente e de grande proximidade com quem assiste. As histórias abordam tópicos pertinentes em uma estética que acolhe e conversa diretamente com o imaginário brasileiro.
Caso você já tenha assistido algum capítulo dos roteiros mencionados, provavelmente você leu o título desse texto cantarolando e lembrando com nostalgia da música tema da novela, e eu sei disso porque minha trilha sonora para escrever o artigo foi composta pelas músicas que, mesmo tendo assistido essas novelas a anos atrás, sei a letra de cor. Que bom que Íris Abravanel fez tantas adaptações, porque a verdade é que algumas narrativas merecem ser contadas mais de uma vez para que todos os públicos tenham a chance de conhecê-las.