Marketing nas eleições virou várzea
- 16 de outubro de 2024
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- Theillyson Lima
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Candidatos à prefeitura de São Paulo investiram mais de R$ 2 milhões em marketing na internet.
Isabella Maciel
Nas eleições presidenciais, as redes sociais foram cruciais para os candidatos. Neste contexto, as estratégias de marketing digital desempenham um papel fundamental, não apenas na divulgação de propostas, mas na construção de uma imagem que se comunica diretamente com o eleitorado e podendo mudar completamente a imagem de um candidato.
É preciso analisar as estratégias de marketing e o que se fala em outras contas digitais sobre os principais candidatos e como isso influencia nas eleições.
Tabata Amaral
A candidata do PSB à prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral, se moldou como uma figura que combina o papel de combatente firme contra o crime, a imagem de uma ativista política periférica e a de uma mulher apaixonada. Essa construção não é acidental, mas cuidadosamente planejada por sua equipe de marketing, que entende as preferências do público digital. A aposta é que essa mistura de “rebeldia e responsabilidade” vende bem aos eleitores.
Como uma candidata mulher, ela enfrenta questões de gênero, como comentários e publicações que desviam do foco em suas propostas e exploram aspectos pessoais, como o relacionamento com seu parceiro, o também político João Campos. Foram feitos “edits” românticos de trechos do debate entre Tabata e Pablo Marçal, e montagens de trechos de entrevistas que aparecia ela falando que “o Pablo Marçal é um fofo”, “o mais lindo de todos”, quando na verdade essas falas se referiam ao João Campos.
Além de ser alvo de provocações, ela deu uma entrevista ao Flow Podcast, na qual Igor Coelho, apresentador do programa, a questionou sobre ela achar Marçal bonito. O que não é e não deveria ser um questionamento relevante dentro do cenário das eleições.
Sua figura foi tratada de forma a reforçar estereótipos de gênero, com memes e montagens que subestimam suas ideias em prol de aspectos irrelevantes para o cenário político.
Apesar disso, Tabata utiliza suas redes para promover uma identificação com a periferia, enfatizando suas origens e como pretende retribuir à comunidade. Sua comunicação direcionada a esse público é evidente em suas respostas e postagens, nas quais ela constantemente aborda temas de interesse das comunidades. Além disso, sua equipe fez a escolha de utilizar trends como POV: homens nas eleições, cortes, e vídeos de tópicos inexistentes nas propostas de seus concorrentes, criando assim uma estratégia de busca ao público jovem, aumentando seu alcance nas redes.
Pablo Marçal
A candidatura de Pablo Marçal foi marcada por uma série de declarações polêmicas e pelo tom provocativo que ele usa em suas redes. O marketing digital do ex-coach, explora a imagem de “pai de família” e defensor de valores tradicionais. Ele ganhou visibilidade com alfinetadas, que viralizaram e geraram engajamento, não necessariamente pelo conteúdo político, mas pela controvérsia em si.
Apesar de sua abordagem controversa, Marçal conseguiu espaço nas redes, aumentando a visibilidade para além de suas propostas políticas, promovendo de forma indireta os seus produtos e cursos. O que Marçal mais vendeu nessa campanha eleitoral não foram propostas, mas sim a própria imagem, ele gerou centenas de clicks em cima das respostas polêmicas, falas incoerentes, e a protagonização da cadeirada ao vivo. Após todos os acontecimentos polêmicos ele se dirigia diretamente ao Instagram, Tiktok e Facebook, para dar uma resposta ou fazer um comentário inacreditável, gerando mais visualizações.
Nos comentários, os internautas reagiram ao teor provocador de suas declarações, o que garantiu um grande engajamento, ainda que com uma parcela significativa de críticas e memes.
A equipe de Marçal utiliza a estratégia de publicações massivas para gerar uma presença digital, enquanto Tabata Amaral, Boulos e Ricardo Nunes variam de 15 a 25 postagens por dia em seu Instagram, Pablo Marçal já passou de 30 postagens em um único dia. Apesar da alta frequência de postagens ele mantém uma variação em seu conteúdo, entre vídeos motivacionais, educativos e entretenimento.
O ex-coach fala tudo com um ar de propriedade, sem embasamento algum, e o público dele fica morando em incertezas.
Ricardo Nunes
Na disputa pela reeleição em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) investiu mais de R$ 850 mil em anúncios nas plataformas da Meta, que incluem Instagram e Facebook. Ele se destaca como o maior investidor em impulsionamento de conteúdos nas redes sociais entre os candidatos à prefeitura da cidade.
Nunes tem uma presença digital muito polarizada, usando as cores nacionais e se associando a figuras influentes, como o governador Tarcísio de Freitas, para construir sua base. Ele buscou reforçar sua conexão com a comunidade por meio de vídeos de apoio gravados por moradores de São Paulo, o que lhe rendeu uma base fiel de seguidores que se identificam com sua mensagem.
Seu relacionamento com Tarcísio só aumentou os seus números. O governador é um forte candidato às eleições presidenciais, e essa união entre eles nas redes só trouxe benefícios para os dois candidatos.
Com o comentário de Bolsonaro, que apoiaria Marçal em um possível segundo turno, demonstrou falta de confiança em Nunes, seu apadrinhado em São Paulo no primeiro turno, que se uniu ainda mais a Tarcísio.
Em suas redes, os comentários são muito polarizados, com muitos apoiadores cobrando propostas concretas e outros questionando suas atitudes passadas, como as denúncias de agressão. Mesmo assim, essa diversificação de conteúdos e temas parece ter fortalecido sua campanha digital.
Guilherme Boulos
Guilherme Boulos adotou uma estratégia de marketing de aproximação com figuras públicas e de destaque nas redes, como Caetano Veloso, Nando Reis, Felipe Neto, e muitos outros para reforçar sua base de apoio.
Boulos também utilizou referências à cultura pop, como as famosas pulseirinhas dos shows de Taylor Swift, para se conectar com o público jovem. E cumpriu com seu objetivo, pois nos comentários foi possível ver os fãs da cantora demonstrando apoio ao candidato.
A presença de Boulos na mídia também se beneficiou da associação com influenciadores, gerando conteúdos que não apenas trazem engajamento, mas também humanizam sua imagem.
A tática de aliar-se a figuras públicas trouxe um efeito positivo em termos de engajamento, enquanto ele promovia debates que iam além de suas propostas. Com essa abordagem, Boulos conseguiu uma presença digital que se destaca pela criatividade e pela habilidade de se alinhar aos interesses culturais de seus seguidores.
Os candidatos usam e abusam de seu poder na mídia para falar informações incoerentes, sem embasamento, deixando o público confuso. Além do conteúdo massivo nas redes, criando uma espécie de “onipresença”. Com tantas falas absurdas gerando engajamento, a escolha do público é gerar memes e cortes nas redes, disseminando a desinformação e gerando a falta do principal fator que deveria ser explorado: as reais mudanças.