Uma mensagem de pombo-correio para a imprensa internacional
- 25 de setembro de 2024
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- Theillyson Lima
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Alguns meios de comunicação internacionais preferem reutilizar conteúdos para fornecer informações rápidas, ignorando o cerne da crise.
Vefiola Shaka
Em meio a um desastre ambiental sem precedentes, o Brasil enfrenta incêndios devastadores, que se espalham principalmente na Amazônia e no Pantanal, colocando em risco não apenas a biodiversidade única de um país, mas também afetando a saúde pública em cidades como Brasília e São Paulo. O governo brasileiro declarou estado de emergência em outros 538 municípios, intensificando esforços para tentar controlar a propagação de incêndios, causados por condições climáticas adversas e suspeitas de atos criminosos.
Diante de um cenário sem paralelo que o Brasil atravessa com o fogo cruel da Amazônia e Pantanal, alguns jornais internacionais, como o The Guardian, a BBC e o Le Monde, abordam o assunto de uma forma não diferente daquela já anunciada pela mídia brasileira. Porque é que estes meios de comunicação globais apresentam as mesmas narrativas?
Reflexão profunda da realidade ou apenas uma repetição fácil e abrangente para consumo? É nesse tipo de repetição que se desenvolve uma questão: existe uma real contribuição para alertar o mundo sobre a gravidade do que está acontecendo no Brasil? Ou só serve para reportar o que foi feito localmente, sem aprofundar a discussão?
Apesar deste papel dos jornais na sociedade mundial, a superficialidade das notícias e o posicionamento diante da catástrofe são impressionantes, deixando para trás muita coisa que se desejaria.
As coberturas internacionais
O The Guardian contextualiza os incêndios no fenômeno das alterações climáticas globais, sublinhando a perda de biodiversidade e as ameaças ao equilíbrio climático global. Mas um foco tão estreito na narrativa ambiental global esconde a dolorosa realidade. A situação no Brasil é muito mais complexa do que isso.
A BBC faz um ato de equilíbrio ao trazer não apenas visões globais, mas também uma consequência para a saúde pública e para as principais cidades do Brasil. No entanto, é neste esforço de informar que as ramificações políticas e sociais da crise são muitas vezes deixadas de lado, o que muitos membros do público apreciam com maior profundidade e compreensão. Como podemos falar de saúde pública e não discutir quem paga o preço desta destruição?
Enquanto o Le Monde se concentra nas reações internacionais e nas pressões que estão sendo exercidas sobre o governo brasileiro para adotar uma política ambiental mais responsável. Embora a cobertura jornalística francesa tenha efetivamente trazido informações valiosas sobre a diplomacia e as iniciativas globais, faltou análises críticas das causas e deficiências na gestão interna da crise.
Superficialidade nas mídias internacionais
A cobertura internacional da crise foi preenchida por uma aparente repetição das mesmas histórias, veiculadas em jornais mundiais. O foco tem sido colocado na perda de biodiversidade e nos impactos globais das alterações climáticas, que, embora sejam importantes, não representam todo o problema. Vivemos num mundo em que alguns meios de comunicação preferem reutilizar conteúdos que fornecem informações rápidas em vez da essência da crise.
Para além dos mencionados acima, muitos outros fatores sociais e econômicos contribuem para a criação de pressões da agricultura e da pecuária que levam aos incêndios, raramente encontrados nas notícias, juntamente com a forma como as comunidades locais e indígenas são diretamente afetadas.
Contexto histórico
Desde o início dos anos 2000, a Amazônia tem estado no centro de desastres ambientais altamente divulgados. O auge dos incêndios ocorridos na Amazônia em 2019 criou pela primeira vez uma mobilização inédita em todo o mundo, cujos pontos de articulação e visibilidade se cristalizaram na campanha #PrayForAmazonia. Isso expôs a destruição das florestas e apelou à adoção de medidas mais vigorosas por parte do governo brasileiro e da comunidade internacional.
Comparação com respostas anteriores
O padrão de resposta internacional às crises ambientais na Amazônia certamente melhorou ao longo dos anos. No passado, as crises ambientais foram tratadas em grande parte através de esforços de conservação que visavam áreas específicas de uma floresta ou menos, em termos de campanhas globais e pressão coordenada sobre os governos. No caso da década de 1990 e da destruição da Amazônia, as forças motrizes incluíram principalmente ONG e iniciativas locais com resposta ou impacto global menos aparente.
Com o advento das redes sociais e das campanhas digitais, como #SaveTheAmazon, existe a capacidade de uma mobilização mais rápida e ampla. A cobertura midiática global também envolveu impactos ambientais e consequências para a saúde pública, refletindo uma compreensão alargada das consequências da crise.
A conscientização pública é extremamente significativa para trazer qualquer forma de crise ambiental à tona e criar um senso de urgência. Elas serão limitadas na promoção de mudanças efetivas se não caminharem lado a lado com a luta constante para transformar a conscientização em ação concreta. Se não agirmos agora, a história mostrará que se perdeu uma oportunidade de ouro para salvar um dos maiores tesouros do nosso planeta.