Como o Brasil se enxerga nas eleições americanas
- 4 de setembro de 2024
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- Theillyson Lima
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Brasil vivencia a síndrome do vira-lata enquanto os EUA parecem não se preocupar com isso.
Gabrielle Ramos
A eleição nos Estados Unidos vai definir a maneira como o país vai seguir nos próximos anos. Afinal, os dois candidatos à presidência, Kamala Harris, pelo Partido Democrata e Donald Trump, do Partido Republicano, têm opiniões que apontam para caminhos diferentes.
Entre os dias 19 e 26 de agosto, o G1 publicou cerca de 30 matérias relacionadas às eleições norte-americanas. Em contrapartida, abordou as eleições brasileiras em apenas oito ocasiões. Por outro lado, a CNN manteve uma cobertura mais equilibrada, publicando praticamente o mesmo número de notícias sobre as duas eleições.
Nesse contexto, fica evidente a atenção que os veículos de mídia brasileiros dedicam à cobertura das eleições estadunidenses, pois igualam ou até mesmo superam a atenção dada às eleições brasileiras. Mas até que ponto isso realmente impacta o cenário político brasileiro?
Postura dos candidatos e a relação com o Brasil
O candidato republicano adota uma postura rigorosa em relação a imigração, defendendo medidas como a construção de um muro na fronteira com o México e a implementação de deportações em massa. Essa abordagem pode causar incertezas nas relações diplomáticas, especialmente com países que atualmente mantêm alianças com os Estados Unidos, o que já foi visto no primeiro mandato dele.
Por outro lado, Kamala Harris propõe medidas que facilitam a entrada legal de imigrantes no país, priorizando, assim, a segurança nas fronteiras. Além disso, a candidata republicana se compromete a enfrentar a crise climática, oferecendo apoio financeiro a iniciativas de preservação ambiental.
Já Trump adota uma postura negacionista, pois evita falar sobre temas como aquecimento global. Essa atitude pode reduzir a pressão internacional para a diminuição do desmatamento de biomas brasileiros, entre outros impactos ambientais.
No que se refere aos conflitos atuais, Trump apoia a Rússia e Israel. Esses posicionamentos contrastam com o atual governo brasileiro, que condena a invasão da Ucrânia pela Rússia, defende negociações de paz entre as partes envolvidas e lidera um movimento contrário às ações de Israel na Faixa de Gaza.
Kamala apoia a Ucrânia, defendendo o cumprimento das obrigações da OTAN, incluindo o envio de equipamentos militares ao país. Assim como Trump, ela também apoia Israel, mas enfatiza a necessidade de que o país adote medidas para proteger os civis palestinos.
No âmbito econômico, ambos os candidatos pretendem pressionar a inflação norte-americana a fim de desacelerar a chinesa. Isso restauraria o protagonismo dos EUA na produção de bens e consumo, o que consequentemente afetaria o Brasil. A exportação de produtos para os EUA é responsável pela manutenção de 500 mil empregos diretos no Brasil, segundo o Departamento de Estado do país norte-americano.
Síndrome do vira-lata
Analisando as propostas de governo dos candidatos, fica claro que ambas podem impactar as relações entre os Estados Unidos e o Brasil, tanto de forma positiva quanto negativa. Para o Valor Econômico, o aspecto econômico é particularmente sensível a isso, uma vez que os países são parceiros.
Apesar disso, fica claro que o Brasil não ocupa um papel central nas agendas dos candidatos. Segundo textos da CNN, os temas centrais estão fundamentados em problemáticas ligadas à região norte-americana. Para ambos, a prioridade é trabalhar pela segurança e crescimento nacional.
No cenário atual, o Estadão explica que uma possível eleição de Trump como presidente gera incerteza, pois pode representar uma ameaça ao governo brasileiro. Durante o mandato anterior de Trump, sua proximidade ideológica com o ex-presidente Jair Bolsonaro facilitava as relações entre os dois países, o que pode não se repetir com a administração atual.
Dessa forma, o presidente Lula preza pela segurança. “Como democrata, estou torcendo para que o Biden saia vitorioso. E, se o Biden ganhar, eu já conheço o Biden, já tenho uma relação com os EUA, que é uma relação sólida, e eu pretendo manter”, declarou em entrevista à Rádio Itatiaia, de Minas Gerais.
Mas com a não reeleição de Joe Biden ao cargo, a lógica é continuar destinando o apoio a Kamala Harris, que compartilha uma linha de pensamento mais alinhada com a do presidente brasileiro. “Se o Trump ganhar, a gente não sabe o que ele vai fazer, sinceramente, muita gente não tem noção do que ele vai fazer”, afirmou na mesma entrevista. Isso, por sua vez, pode impactar, mesmo que indiretamente, as eleições para prefeitos e vereadores no Brasil.
Já no cenário internacional, os EUA têm o poder de decidir o futuro das duas guerras que acontecem no momento. Para Lula, essa eleição é importante para todos os países, pois a partir disso é possível melhorar ou piorar o mundo.
Ou seja, o voto passou a ter um caráter ideológico. Para o Jota, a vitória de um candidato não representa apenas o sucesso individual dele, mas sim a prevalência de um ‘lado’ político que está no poder, seja à direita ou à esquerda.
E se engana quem pensa que essa é a primeira vez que isso acontece. Quem garante que Jair Bolsonaro não teria sido reeleito caso Trump estivesse na presidência dos EUA na época? Da mesma forma, não se pode afirmar que a vitória dele neste ano não influencia uma possível queda de Lula. Por outro lado, uma vitória de Kamala Harris poderia representar um obstáculo para o retorno da direita ao poder no Brasil.
Isso tudo mostra que o brasileiro sofre da famosa ‘síndrome do vira-lata’. Enquanto surfa na onda dos gigantes, posicionando-se como espectador da dinâmica global, aguarda que o resto do mundo decida o enredo da história.