Biden está ficando caduco?
- 4 de setembro de 2024
- comments
- Theillyson Lima
- Posted in Análises
- 0
A “caduquice” de Biden foi abordada nos debates presidenciais, tanto pela imprensa norte-americana quanto pela mídia internacional.
Julia Viana
O questionamento sobre a idade de Joe Biden começou a ser explorado pela mídia muito antes dele se tornar oficialmente o candidato do Partido Democrata nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Desde que anunciou sua candidatura, em 2019, o então ex-vice-presidente já enfrentava questionamentos sobre sua capacidade de liderar o país devido à sua idade avançada. Com 78 anos, Biden era o candidato presidencial mais velho da história dos Estados Unidos, o que naturalmente levantou preocupações sobre sua saúde e aptidão mental.
Em 2024, com 81 anos, durante a corrida eleitoral, a capacidade de liderança de Biden voltou a ser intensamente questionada. À medida que comícios e reuniões públicas eram feitas e o presidente parecia hesitante ou desorientado em suas aparições, internautas e a mídia conservadora reforçaram amplamente a narrativa de que Biden estava inapto para exercer a presidência com eficácia.
Foco na idade avançada
A imprensa norte-americana, especialmente veículos de comunicação conservadores, como a Fox News, rapidamente começou a explorar a ideia de que Biden estava “caduco”, um termo pejorativo que sugere declínio mental. A narrativa de que Biden estava mentalmente inapto para assumir a presidência foi amplamente disseminada, com vídeos de gafe e lapsos de memória sendo amplificados por esses meios de comunicação. Essa cobertura criou uma base de percepções negativas que se tornaria central durante os debates presidenciais.
Por outro lado, veículos progressistas, como o The New York Times e a CNN, procuraram equilibrar a narrativa, destacando a vasta experiência de Biden e sua postura moderada como qualidades essenciais para liderar um país dividido. Esses veículos frequentemente minimizavam as preocupações com a idade de Biden, enfatizando a importância de suas políticas e visão para o futuro dos Estados Unidos. No entanto, mesmo esses meios de comunicação não puderam ignorar completamente a questão da idade, que continuava a ser uma preocupação presente entre o eleitorado.
A cobertura internacional também refletiu essas divisões. Nos países europeus, onde os líderes políticos costumam ser mais velhos, a idade de Biden não foi um tema tão explorado. A mídia europeia, como o portal The Economist, focou nas diferenças políticas entre Biden e Trump, e na importância das eleições para a democracia global. No entanto, na América Latina, incluindo o Brasil, a narrativa de “caduquice” encontrou eco em veículos mais conservadores, que replicavam as críticas feitas pela direita norte-americana.
A caduquice em evidência
Os debates presidenciais entre Joe Biden e Donald Trump foram momentos cruciais em que a questão da “caduquice” de Biden foi colocada à prova. Durante essas discussões, a idade e a capacidade mental de Biden se tornaram tópicos centrais, especialmente impulsionados pelos ataques de Trump, que frequentemente insinuava que Biden não estava mentalmente apto para liderar o país.
Em várias ocasiões, Biden teve dificuldades em responder de forma rápida ou em articular suas ideias com clareza, o que foi imediatamente destacado por veículos conservadores como prova de sua “caduquice”. A Fox News não perdeu tempo em editar e amplificar momentos em que Biden parecia hesitante, reforçando a ideia de que ele estava mentalmente inapto para o cargo.
Porém, a própria imprensa progressista, embora mais cautelosa, não conseguiu evitar a discussão sobre a idade de Biden. Alguns jornalistas da CNN e do The Washington Post questionaram, mesmo que de forma sutil, se Biden tinha a energia necessária para lidar com os desafios de uma presidência, especialmente em um momento tão crítico para os Estados Unidos.
De forma geral os veículos internacionais mantiveram o foco nas políticas propostas por Biden e Trump, mas os momentos em que Biden parecia vacilar não passaram despercebidos. No Brasil, a imprensa adotou uma postura variada: enquanto os grandes veículos de comunicação, como a Folha de S.Paulo e o Estadão, mantiveram uma cobertura relativamente neutra, outros canais, especialmente na mídia digital e em portais de opinião, seguiram a linha editorial dos meios conservadores americanos, reforçando a narrativa de que Biden estava “caduco”.
É importante notar que, apesar dessas críticas, Biden também teve momentos fortes nos debates, nos quais demonstrou conhecimento profundo sobre questões políticas e experiência em governança, como em seu discurso na Carolina do Norte em que abordava a escassez de alguns produtos que vem prejudicando as indústrias Norte Americanas e logo em seguida cometeu uma gafe. Seus momentos de conhecimento e triunfo foram usados para contrapor a narrativa da “caduquice”, argumentando que Biden, apesar de sua idade, ainda possuía a capacidade mental necessária para liderar o país.
A persistência da narrativa e a decisão de Biden
Após os debates, a narrativa da “caduquice” de Biden não apenas persistiu, mas foi intensificada. A cobertura midiática, especialmente nos meios conservadores, continuou a focar em qualquer sinal de declínio mental de Biden. Episódios em que ele parecia desorientado ou cometia gafes em eventos públicos foram amplamente divulgados, alimentando a ideia de que o presidente não estava em pleno uso de suas faculdades mentais.
Essa narrativa começou a influenciar a opinião pública de forma mais significativa. Uma pesquisa divulgada pela CBS News com a empresa de pesquisa YouGov, mostrou que 72% dos eleitores americanos estão preocupados com a saúde mental de Biden e acreditam que ele não deveria disputar a reeleição em novembro.
A pressão midiática e as crescentes preocupações dentro de seu próprio partido provavelmente contribuíram para que Biden reconsiderasse seus planos de reeleição. Em entrevistas e declarações públicas, Biden começou a mostrar sinais de hesitação sobre concorrer novamente, algo que foi amplamente discutido na mídia. A decisão final de não buscar a reeleição, embora baseada em uma série de fatores, certamente foi influenciada pela constante cobertura negativa de sua idade e saúde mental.
Uma reflexão necessária
Toda a cobertura da “caduquice” de Joe Biden nas eleições presidenciais levanta questões importantes sobre o papel da imprensa na política. A mídia tem o poder de moldar percepções e influenciar decisões, e no caso de Biden, essa influência foi destacada. A narrativa de que Biden estava mentalmente inapto foi construída e reforçada por veículos de comunicação que tinham interesse em deslegitimar sua candidatura. Essa narrativa, mesmo quando contestada por outros meios de comunicação, acabou se enraizando na percepção pública, se tornando um fator significativo na decisão de abandonar a corrida pela reeleição.
A cobertura equilibrada e responsável visa garantir que o eleitorado receba informações precisas e que as decisões políticas não sejam influenciadas por narrativas sensacionalistas ou interesses partidários. No caso de Joe Biden, a questão da “caduquice” foi um exemplo claro de como a mídia pode, intencionalmente ou não, moldar o destino político de um candidato.