Israel x Palestina: como tudo começou?
- 15 de maio de 2024
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- Theillyson Lima
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Quase 80% da população de Gaza foi forçada a abandonar suas casas.
Isabella Maciel
“Número de mortos na guerra entre Israel e Hamas em Gaza ultrapassa a marca de 35.000”. “Israel avança no norte de Gaza, onde dizia ter derrotado o Hamas há meses”.
Toda semana saem notícias como essa nos jornais. A atual violência no Oriente Médio teve seu início anos atrás depois da fundação do estado de Israel, mas as motivações dessa guerra são bem mais antigas.
Terra Santa
Jerusalém é considerado como a Terra Santa por três religiões: islamismo, cristianismo e judaismo. De acordo com as escrituras, houve guerras, reinos divididos, conquista dos assírios, babilônios, persas, entre outros povos, gerando uma longa disputa de território que se estende até os dias de hoje.
Após a morte de Cristo, os romanos invadiram Jerusalém e destruíram o templo, deixando somente um muro que hoje é conhecido como Muro das Lamentações, e renomeia a província de Judeia para Palestina, esse era o nome que muitos gregos usavam para se referir àquela região.
Os romanos levaram muitos judeus como escravos, outros migraram para a região da Península Ibérica e norte da Europa, e os demais foram perseguidos por séculos. Durante esse tempo, os muçulmanos chegaram na região.
Os judeus que restaram naquela região acabaram ficando ricos, pois eles serviam de ponte no comércio entre o mundo cristão e muçulmano. Contudo, durante a Idade Média, surgiu a Inquisição Católica Romana, sua busca por heresias, lançou-se contra judeus e muçulmanos, forçando a conversão ou o exílio.
Assim, muitos judeus encontraram refúgio no Império Otomano, onde as condições eram, ironicamente, menos hostis do que na cristandade europeia. O povo judeu começou a se considerar uma nação sem terra, e estavam cansados de ser nômades, foi daí que surgiu o movimento sionista.
Os Otomanos começaram a ter problemas com os árabes da região e com os judeus por conta do movimento sionista.
O princípio
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1917, os interesses geopolíticos se reconfiguraram quando os britânicos, num gesto que refletia mais seus próprios interesses do que qualquer preocupação com justiça ou equidade, prometeram aos judeus um lar na Palestina em troca de apoio contra os otomanos e alemães, ao mesmo tempo em que acenavam a possibilidade de um estado árabe unificado para apaziguar os árabes. Com o fim da guerra, os ingleses decidiram apoiar a causa sionista e a criação de um lar nacional para o povo judeu na Palestina, através da famosa Declaração Balfour.
No entanto, essa declaração foi como jogar lenha na fogueira, ignorando por completo os direitos dos árabes que já moravam naquela região, que eram maioria no território. Os britânicos simplesmente decidiram traçar linhas no mapa sem considerar as consequências para aqueles que já viviam ali há gerações.
Mas deixaram claro que “nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das coletividades não-judaicas existentes na Palestina”. Portanto, os direitos dos árabes e de outras etnias deveriam ser respeitados.
Nas décadas de 1920 e 1930, milhares de judeus se estabeleceram na Palestina, e como era de se esperar, a tensão só aumentou ao longo dos anos. Entre 1936 e 1939 a tensão entre árabes e colonos judeus resultou em tumultos e confrontos.
Em 1937, diante ao caos, os britânicos propuseram uma solução aparentemente simples: dividir Israel em um estado árabe, um estado judeu e uma zona neutra para Jerusalém. Parecia uma solução à prova de falhas, até que um ano depois, a comissão separada concluiu que essa divisão era impraticável e o plano foi abandonado. Mais um capítulo na saga de tentativas fracassadas de resolver o conflito do Oriente Médio.
Dez anos depois, para buscar uma melhor convivência, as Nações Unidas voltam na mesma tecla e votam a favor da divisão de dois estados independentes, um árabe e um judeu, e Jerusalém seria um território neutro internacional. O voto pode ter sido bem-intencionado, mas nenhum dos lados ficou totalmente satisfeito com o acordo. O plano foi aprovado, mas nunca foi implementado. E para piorar, o contexto da Segunda Guerra Mundial lançou uma sombra ainda maior sobre o conflito, com milhões de judeus sendo vítimas do Holocausto.
Apesar de a resolução prever a internacionalização de Jerusalém, os principais sionistas concordaram com o Plano de Partição, enquanto o lado árabe o considerou injusto por dividir o território, alegando que os sionistas não tinham direito à terra.
Com essa tensão, houve um conflito armado que os israelenses chamam de Guerra da Independência, e os palestinos chamam de “Nakba”, que significa catástrofe ou desastre. Várias comunidades palestinas foram destruídas durante esse confronto e cerca de 740 mil palestinos foram deslocados.
Criação do estado de Israel
No dia 14 de maio de 1948, houve o fim do Mandato Britânico sobre a Palestina, o governo britânico havia informado meses antes, que concordava com o plano de partilha das Nações Unidas, mas que não iria implementá-lo, marcando uma data para sua saída. No mesmo dia, o líder judeu David Ben-Gurion proclamou o estabelecimento do estado de Israel.
No dia seguinte, cinco países árabes (Egito, Síria, Jordânia, Irque e Líbano) declaram guerra ao recém-criado país e invadem o novo estado judeu, iniciando a primeira de uma série de gurras árabe-israelenses que moldaram o futuro da região.
Israel ganha a guerra arabe-israelense, conquistando mais terras e ocupa a parte ocidental de Jerusalém, enquanto a vizinha Jordânia ocupa a Cisjordânia e a parte oriental de Jerusalém e o Egito conquista a faixa de Gaza.
Mais de 400 aldeias palestinas são destruídas pelas forças israelenses, resultando no deslocamento de cerca de 760.000 refugiados palestinos para a Cisjordânia, Gaza e outros países árabes vizinhos.
Após a saída dos britânicos e com o fim da guerra, os palestinos continuam sem um país.
Ocupação
Durante a Guerra dos Seis Dias em junho de 1967, Israel não apenas enfrenta o Egito, a Jordânia e a Síria, mas também duplica significativamente suas fronteiras, conquistando a Península do Sinai, as Colinas de Golã, Gaza e a Cisjordânia.
A criação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em 1964 marcou um ponto de virada na resistência palestina assumindo a causa, mas também trouxe consigo um aumento nas tensões regionais, culminando em eventos trágicos como o ataque terrorista durante os Jogos Olímpicos de Munique em 1972.
Países árabes atacam Israel em 6 de outubro de 1973, mas os israelenses conseguem conter o ataque.
Apesar de alguns gestos de reconciliação, como a proposta de “dois estados” da OLP após a Guerra de 1973, a tensão entre Israel e Palestina permanece, com períodos de violência e conflito intermitentes.
Em 1982 Israel invade o Líbano. Inicialmente, a operação tinha como objetivo expulsar a OLP do território libanês, devido aos constantes ataques por grupos palestinos contra Israel a partir do Líbano. Porém, a operação rapidamente se transformou em uma campanha militar em larga escala, com Israel buscando enfraquecer significativamente a influência da OLP na região. A invasão culminou com o cerco e o massacre dos refugiados palestinos nos campos de Sabra e Shatila, cometido por milícias cristãs libanesas aliadas de Israel.
Intifadas
Em dezembro de 1987, deu-se início à Intifada, uma espécie de revolta palestina contra o governo israelense na Cisjordânia e Gaza. Segundo relatórios da Human Rights Watch, durante os primeiros 31 meses dessa Intifada, as Forças de Segurança de Israel (FDI) eliminaram mais de 670 palestinos e feriram milhares de outros. Parece que Israel estava tão preocupado em “restaurar a ordem” que esqueceu completamente a palavra “moderação”.
De acordo com esses relatos, Israel culpou os próprios palestinos pelas mortes, alegando que sua “resistência violenta” às tropas israelenses exigia uma resposta enérgica. Eles até mesmo afirmaram, com um toque de ironia, que seus soldados responderam aos “perigos e provocações constantes” com “grande moderação”, como se estivessem distribuindo chocolates ao invés de bombas.
A primeira Intifada, que começou em dezembro de 1987 e terminou em setembro de 1993 com os acordos de Oslo, deveria ter sido um momento de avanço para a paz. Mas quem diria que, anos depois, Israel e os palestinos ainda estariam presos em um ciclo interminável de conversações de paz que nunca parecem levar a lugar algum?
Pela primeira vez, se estabelece um governo autônomo na Faixa de Gaza e na cidade de Jericó, na Cisjordânia.
Em setembro de 2000, explodiu uma segunda Intifada, e tudo por causa de uma visita ao Monte do Templo por parte do líder da oposição, Ariel Sharon. Como se um passeio turístico fosse suficiente para desencadear uma onda de violência em Jerusalém e na Cisjordânia. Parece que o simples ato de visitar um lugar sagrado é suficiente para colocar todo o Oriente Médio de cabeça para baixo.
Em 2003, o presidente dos EUA, George W. Bush, apresentou seu “Oriente Médio: O Roteiro para a Paz”, uma espécie de mapa para resolver os conflitos entre Israel e os palestinos. Embora ambos os lados tenham concordado com as diretrizes gerais do plano, eles parecem ter esquecido o destino final: uma solução de dois estados. Talvez tenham perdido o mapa no caminho.
Cinco anos depois, em junho de 2008, um cessar-fogo foi mediado pelo Egito entre o Hamas e Israel em Gaza. O objetivo era simples: acabar com os ataques de foguetes e aliviar o bloqueio israelense. Mas, como sempre, esse momento de paz foi apenas uma pausa antes da próxima rodada de hostilidades.
Em 27 de dezembro daquele ano, o cessar-fogo terminou oficialmente após apenas seis meses. Israel lançou a Operação Chumbo Fundido, um ataque militar maciço aéreo de 23 dias contra a Faixa de Gaza. Foram mortos no ataque cerca de 1400 palestinos, sendo mais de 300 menores de idade, o ataque mais brutal desde de a “Nakba” até então.
Conflito interminável
Em um dos momentos mais sombrios dessa história, em 2014, Israel lançou a “Operação Margem Protetora” contra o Hamas. O resultado foi devastador, com mais de 2.200 palestinos que morreram na violência em Gaza nesse período, e estima-se que quase 70% dessas vítimas eram civis. Enquanto as Nações Unidas contabilizavam os mortos, Israel defendia sua ação, destacando os soldados do Hamas entre as vítimas.
Enquanto isso, do lado israelense, as perdas eram menores, 73 mortes israelenses, sendo 67 delas soldados.
Em 2017, o Exército Israelense anunciou o fechamento das passagens fronteiriças com Gaza “devido a acontecimentos relacionados com a segurança e de acordo com avaliações de segurança”. As passagens de Kerem Shalom e Erez, que são as únicas que permanecem na fronteira israelense, foram fechadas.
A situação na região se intensifica quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declara o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel e anuncia planos para transferir a embaixada dos EUA para a cidade sagrada.
Em maio de 2018, as forças israelenses mataram dezenas de palestinos em confrontos sangrentos na fronteira de Gaza, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos celebravam sua embaixada em Jerusalém. Segundo o Ministério da Saúde palestino, 58 palestinos foram mortos e pelo menos 2.700 ficaram feridos. As Forças de Defesa de Israel (FDI) alegaram posteriormente que os manifestantes estavam tentando invadir a cerca que separa Israel de Gaza.
No ano seguinte, em maio de 2019, houve diversos protestos nos campos de refugiados como Jabaliya e Deir al-Balah, além das cidades de Gaza e Khan Younis. Os manifestantes, cansados da economia precária e das condições de vida em Gaza, se reuniram em massa para expressar seu descontentamento.
2021
A guerra entre Israel e a Palestina segue incessante, com mais um surto de violência em 2021, destacando-se como uma das piores ondas de violência dos últimos anos.
A cidade permaneceu em estado de tensão por semanas, com a fúria palestina agravada pelo fechamento de uma praça popular durante o Ramadã, coincidindo com uma batalha legal de anos para deslocar sete famílias palestinas de suas casas no leste de Jerusalém.
Os líderes palestinos denunciaram o esforço de despejo como uma “limpeza étnica”, acusando Israel de tentar “judaizar” a cidade sagrada, conforme relatado pela agência de notícias oficial palestina Wafa.
Por outro lado, Israel tentou diminuir a gravidade do conflito, rotulando-o simplesmente como uma “disputa imobiliária”. O Ministério das Relações Exteriores israelense acusou a Autoridade Palestina e grupos militantes de transformar uma questão de propriedade em uma causa nacionalista para incitar a violência em Jerusalém.
Desde então, a escalada da violência atingiu novos patamares, culminando em outubro de 2023 com um ataque surpresa do Hamas a partir de Gaza. O grupo militante, que controla o enclave costeiro, lançou uma série de foguetes e enviou combatentes armados a Israel, em um ataque multifacetado e sem precedentes no longo conflito entre os dois lados.
As Forças Armadas de Israel retaliaram com ataques aéreos contra supostos alvos do Hamas em Gaza, resultando em 198 mortos e centenas de feridos. A violência deste ano tem sido brutal, com o número de mortos na Cisjordânia ocupada atingindo o seu pico mais alto em quase duas décadas, tanto entre os palestinos, militantes e civis, quanto entre os israelenses e estrangeiros, a maioria civis, vítimas de ataques palestinos.
Situação em Gaza
Gaza, foi capturada por Israel em 1967 e, embora tenha se retirado em 2005, o território continuou enfrentando restrições rigorosas, incluindo um bloqueio naval e aéreo imposto por Israel e Egito.
Com o controle do Hamas sobre Gaza a partir de 2007, a região enfrentou ainda mais desafios, incluindo um cerco cada vez mais apertado e uma série de conflitos com Israel.