Escândalos no Carrefour: impacto nas campanhas publicitárias
- 31 de maio de 2023
- comments
- Theillyson Lima
- Posted in Análises
- 0
A evolução das campanhas publicitárias do Carrefour diante de escândalos.
Camilly Inacio
Palco de diversos escândalos no Brasil, o Carrefour é uma rede internacional de hipermercados que, assim como qualquer outra companhia, se utiliza das campanhas publicitárias como uma grande aliada.
Em 2018, uma grande repercussão e comoção se deu por um cãozinho que foi envenenado, agredido e morto por um segurança da unidade do Carrefour de Osasco, em São Paulo. Posteriormente, em 2020, um homem morreu enquanto trabalhava em uma loja da rede na cidade de Recife. Para não abalar as pessoas ou prejudicar as compras, os funcionários apenas cobriram o corpo com guarda-sóis, retirando o corpo do local apenas horas depois.
Além disso, os mais conhecidos são os casos de racismo que são recorrentes em diversas unidades nacionais da rede Carrefour. Como em 2018, quando um homem negro, com deficiência física foi encurralado e agredido em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Anos depois, em 2020, outro homem negro foi espancado, mas dessa vez até a morte, em uma unidade localizada em Porto Alegre.
Tais exemplos são naturalmente revoltantes, e quando são descobertos geram uma inquietação proveniente da revolta pública por tamanha irresponsabilidade e falta de segurança da rede, resultando em crises de imagem.
Neste texto, veremos como as propagandas e campanhas publicitárias do Carrefour sofreram alteração com o tempo e principalmente na época de alguns dos escândalos mencionados. É importante citar que o conteúdo analisado para este texto se trata de campanhas utilizadas como recurso para conter crises de imagem, sem especificar questões judiciais dos casos.
Campanhas publicitárias
A rede de mercados possui um canal brasileiro no YouTube que está ativo desde 2015. Analisando esses últimos oito anos de publicações relacionadas à diversidade, racismo e assuntos relacionados aos escândalos, podemos ver que diante de tais episódios de escândalos, o marketing do Carrefour decidiu se manifestar através das campanhas publicitárias para lidar com as crises de imagem.
Cão envenenado
O primeiro caso que teve maior repercussão nesses últimos anos foi a morte do cachorrinho que, além de ter sido envenenado, também sofreu espancamento. O episódio ocorreu no dia 30 de novembro de 2018 e repercutiu no mês seguinte.
No canal do YouTube não foi publicado nenhum pronunciamento ou comunicado por meio de vídeo, mas em fevereiro do ano de 2019 começaram a postar vídeos sobre apoio aos animais, participação de eventos beneficentes, e ainda um vídeo de apoio da ativista na proteção aos animais, Luisa Mell.
Agressão e racismo
Anos depois, em novembro de 2020, um homem negro foi espancado e asfixiado até a morte em uma unidade de Porto Alegre. No dia seguinte ao episódio, o grupo Carrefour publicou um vídeo em que o CEO da rede no Brasil e o vice-presidente de Recursos Humanos apareciam em um comunicado oficial.
No vídeo, o CEO aparece informando sobre o incidente, e pedindo desculpas à família da vítima e aos clientes do Carrefour. Além disso, o vice-presidente afirma que o ocorrido não representa a rede, nem seus valores, e cita que 57% dos funcionários são negros. Além disso, ambos comentam sobre medidas a serem tomadas, principalmente como sociedade.
Meses depois da publicação do comunicado, em abril de 2021, a rede publicou um vídeo com o título “Juntos para transformar”, falando sobre o racismo e logo após começou a lançar uma série de vídeos sobre racismo começando com o título “Você sabe o que é racismo?”, seguido dos títulos: “Como o racismo se manifesta nas empresas?”; “Preconceito, discriminação e segregação”; “Racismo estrutural e Racismo institucional”; “É possível tomar atitudes antirracistas?”; “Internalização da Equipe de Segurança”.
A publicidade e a vida real
Mas falar sobre diversidade, respeito e racismo não é algo que o Carrefour começou exclusivamente depois dos escândalos. Desde o início do canal do YouTube, eles buscavam postar, com certa frequência, vídeos sobre tais temas, reforçando sempre o respeito e o compromisso da rede com o apoio a causas se posicionando contra a violência, racismo, homofobia, entre outros.
Ao abordar casos nos vídeos, a empresa fez questão de ressaltar que tais ações não estão alinhadas com os valores da rede de mercados e que os funcionários envolvidos foram demitidos. No entanto, apesar dessas medidas, escândalos continuam ocorrendo. Recentemente, um novo caso de agressão e racismo contra um casal negro ocorreu em uma das unidades.
Esses eventos levantam a questão sobre a eficácia das campanhas publicitárias realizadas pela empresa para amenizar uma crise de imagem. Embora as campanhas publicitárias sejam importantes para promover a imagem de uma empresa e transmitir seus valores e compromissos, acredita-se que elas não são suficientes para resolver problemas sistêmicos e evitar a ocorrência de escândalos.
As campanhas publicitárias muitas vezes são cuidadosamente elaboradas para projetar uma imagem positiva da empresa, com foco em temas como diversidade, inclusão e responsabilidade social. Elas visam transmitir uma mensagem de comprometimento com esses valores, mostrando-se como uma empresa preocupada com a comunidade e com a igualdade.
No entanto, ações reais dentro da empresa nem sempre refletem essas mensagens publicitárias. Os casos de má conduta e discriminação continuam acontecendo, o que indica que pode haver uma desconexão entre a imagem projetada pela empresa e suas práticas internas.
Isso não significa que as campanhas publicitárias sejam inúteis. Elas desempenham um papel importante na construção da reputação de uma empresa e na criação de uma conexão emocional com os consumidores. As campanhas podem conscientizar as pessoas sobre os valores e compromissos da empresa, bem como inspirar mudanças positivas.
No entanto, é crucial que as empresas vão além das campanhas publicitárias e implementem medidas concretas para prevenir escândalos e abordar questões internas. Isso envolve a criação de políticas e programas eficazes de diversidade, treinamento para os funcionários, mecanismos de denúncia e uma cultura organizacional que valorize a igualdade e a inclusão. Somente assim poderão construir uma imagem coerente diante de seus clientes e da sociedade.