Harry Potter: a (quase) melhor adaptação
- 19 de abril de 2023
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- Theillyson Lima
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Dos livros lendários e de uma produção incrível nasceram os filmes nostálgicos, mas com alguns erros “quase” imperceptíveis.
Lana Bianchessi
Criados pela escritora britânica J.K. Rowling, a saga de livros Harry Potter é conhecida no mundo inteiro pelo enredo de fantasia e aventura envolvendo magia, adolescentes e bruxos. A história conta a vida de um bruxo chamado Harry Potter que, junto aos seus amigos, participa de muitas aventuras e escapa da morte algumas vezes.
O sucesso da saga foi tão grande que os 7 livros viraram 8 adaptações cinematográficas que faturou mais de U$ 7,744 bilhões de bilheteria e encantaram os olhos dos fãs. Como foram adaptações, existem pontos que são ajustados para realizar algo possível de ser gravado, já que no livro posso escrever o que eu quiser imaginar. Mas vou focar nas coisas principais que foram essenciais para a história e ficaram em desacordo com os filmes.
Trio de ouro
O protagonista Harry Potter, seu fiel amigo Rony Weasley e sua amiga inteligente Hermione Granger formam o intitulado Trio de Ouro pelos fãs. Os livros abordam a vida do Harry e consequentemente dos seus amigos também, mas algumas coisas são alteradas na adaptação para o cinema.
O enfoque impreciso de características dos personagens é a primeira coisa a se notar quando assistimos aos filmes logo após ler os livros. A Hermione é representada como a mais inteligente deles e consegue se safar de todos os perigos em que o trio se mete. Somente ela usa todos os seus conhecimentos e táticas para os libertar das armadilhas.
Esse conceito é passado de forma tão clara que os fãs que só assistiram aos filmes acreditam que sem a Hermione, o Harry e o Rony nunca teriam sobrevivido ou vencido a guerra que estavam travando no último livro.
Isso não é totalmente verdade. A Hermione é sim a que sabe utilizar de melhor maneira o conhecimento adquirido e se empenha mais em estudar do que os meninos, mas eles formam um conjunto que se complementam para se salvar das armadilhas dos vilões. Ela sozinha não conseguiria pensar em tudo ou carregar o time nas costas, como é bastante mostrado no filme.
O Rony também não escapa de um estereótipo na adaptação cinematográfica. Ele é visto como um amigo bobão e alívio cômico, mas no livro tem muito mais profundidade emocional e é uma parte importante para as batalhas que eles enfrentaram juntos.
Em algumas cenas importantes, inclusive, ele é deixado de lado, como se não precisasse participar de certas conversas. Como na última cena do filme “O Enigma do Príncipe”, quando o Harry está na sacada de uma torre pensando no que irá fazer após a morte de Dumbleodore e somente a Hermione vai conversar com ele, sendo que no livro os três conversam sobre possibilidades de fuga juntos. Por mais que o Rony seja meio atrapalhado e não ligue muito para os estudos, ele se mostra alguém muito companheiro e fiel ao fazer muitas coisas pelos amigos.
Por outro lado, o Harry também é mostrado no filme como se fosse o mimadinho que não segue regras e cai por acaso em armadilhas. Em “O Príncipe Mestiço”, quinto livro da saga, mesmo sendo retratado como “O eleito”, ele nunca gostou de tanta atenção para ele e sempre foi muito curioso por aquele universo, descobrindo aos poucos os mistérios de sua origem. Já no filme, ele chega a discutir com Hermione e usa do título de eleito para ganhar a discussão.
Com um vilão muito astucioso o perseguindo, ele se tornou alvo de armadilhas para que fosse levado a desistir de sua jornada de conhecimento e treinamento bruxo. Harry precisou de muita ajuda de seus colegas e, com certeza, era mais humilde que na adaptação, mesmo que “respondão” algumas vezes.
Gina, por que tão apagada?
Uma mudança de personalidade feita no filme foi a de Gina Weasley. A única forte aparição dela é no primeiro filme, “A Câmara Secreta”, onde a trama gira em torno do diário em que ela encontra. Depois disso, ela perde seu foco e desenvolvimento.
Não é retratado como ela é boa em quadribol, o jogo bruxo da escola, sequer como ela lidera as manifestações e batalhas que acontecem dentro da escola em alguns momentos. Ela é impulsiva, líder nata, astuta, responde os outros e é persistente naquilo que quer.
Nos filmes, tudo o que podemos observar é uma irmã mais nova do Rony que só aparece para ser par romântico do Harry, tímida e sem participação ativa nas batalhas ou no enredo.
Sobre o relacionamento de Gina com Harry, há cenas entre os dois que não existem nos livros e vice-versa. Muitas pontas foram deixadas soltas e são quase imperceptíveis nos filmes, sendo que na saga de livros, a paixão entre eles foi algo construído ao longo do enredo e que teve um papel fundamental para o crescimento do Harry, visto que no livro “O Enigma do Príncipe” ele chega a terminar o namoro deles para ficar distante em sua jornada.
Não existem muitas cenas ou paralelos visíveis na adaptação que encenem o namoro dos dois ou como isso foi relevante para a construção do personagem. Nem existem cenas em que a Gina realmente se mostre alguém com traços de personalidade fortes, o que transparece nos livros.
Ship Inexistente
Falando sobre o namoro do Harry com a Gina, não dá pra deixar de lado o fato de que o roteiro dos filmes forçam a barra de um relacionamento amoroso entre o Harry e a Hermione.
Há uma cena específica em “Relíquias Da Morte Parte 1”, quando o Rony se zanga com os dois enquanto o trio está na sua jornada para acabar com Voldemort. Sozinho, Rony vai embora para casa. Nesse momento, Hermione está triste e o Harry a convida para dançar ali na tenda em que eles estão.
Essa parte jamais existiu no livro e por mais que a essa altura você já entenda que o Rony e a Hermione sentem algo um pelo outro, parece muito uma cena de par romântico. Talvez devesse mostrar o Harry consolando a amiga de outra maneira.
Existem fãs que só assistiram as adaptações cinematográficas e acabam shippando o casal que não chegou a ser um casal nem nos livros. Por mais que a autora tenha ficado em dúvida com quem que a Hermione iria terminar a série namorando, ela escreveu que foi com o Rony e não com o Harry.
Esse triângulo amoroso forçado acaba diminuindo a complexidade da Hermione, pois ela só está sendo usada como peça para um par romântico, quando ela faz parte do protagonismo tanto quanto os outros dois.
Histórias não contadas (mas boas)
- Neville Longbottom
Uma parte interessante para o enredo final do filme e que deixa algumas pontas soltas é a história do Neville Longbottom. No livro “A Ordem Da Fênix” é revelado a profecia em que surgiria alguém para derrotar Voldemort e nessa profecia existiam critérios específicos que tanto Harry Potter quanto Neville Longbottom se encaixavam nos requisitos para serem os eleitos.
Porém, o vilão escolheu Harry por motivos que nunca foram revelados. Mesmo assim, os pais de Neville não foram poupados da maldade do vilão. No livro conta que eles foram mortos, mas no filme só é mostrado que eles ficaram loucos após torturas.
Nas cenas finais, Neville tem muita importância para a trama justamente por isso, afinal ele quase foi o eleito. Poderia ter sido ele a enfrentar todas as batalhas ao invés de Harry e esse fato fez com que ele empunhasse a espada para o Lord Voldemort na batalha final em Hogwarts. Quem só assiste o filme, não entende muito bem a profundidade da história dele e o quanto foi impactante para o Harry saber que poderia ter sido outra pessoa a receber esse destino em vez dele.
- Luna Lovegood
A Luna foi uma aluna muito importante para o desenvolvimento de Harry, pois ela esteve presente em vários momentos, principalmente em “O Cálice de Fogo” e “A Ordem Da Fênix”, mas isso não é retratado nos filmes.
Ela mostrou ao Harry que seu passado também tinha uma tragédia e acompanhou ele em momentos importantes. Quando o trio estava se escondendo depois do retorno do Voldemort, eles passaram pela casa de Luna e os comensais tinham raptado ela, o que trouxe um gancho para uma sequência de acontecimentos na saga.
Nos filmes, essa cena é ocultada. Luna parece um tanto “viajada” e não é levada a sério. Por mais que ela sofra bullying nas obras e adaptações, por ser “diferente” na concepção dos outros alunos, o filme não tem o cuidado de mostrar os traumas que ela conta para o Harry e que a forma mais quieta e ingênua que ela tem é uma consequência das situações vividas por ela.
- Elfos de Hogwarts e F.A.L.E
Para as pessoas que só assistem aos filmes, nunca é explicado como as comidas do castelo de Hogwarts aparecem na mesa das crianças ou como tudo fica limpo e organizado. No livro, temos alguns capítulos todos focados na sociedade escondida de Elfos que vivem em Hogwarts.
Os elfos vivem em um regime de escravidão, sem salário, sem férias, com regras absurdas a seguir, não podendo usar a magia sem permissão e recebendo maus tratos. Existem algumas histórias, como a da Elfa Winky, que não foram abordadas no filme, sendo que deveriam ter sido exibidas para mostrar um lado ruim do mundo bruxo também.
A Hermione descobriu sobre a sociedade dos elfos, sendo que como ela era de uma família “trouxa”, ou seja, de pessoas não-bruxas, e descobriu a magia apenas quando chegou a Hogwarts, tudo era muito novo. Ela não ficou nada satisfeita com a situação que os elfos estavam acostumados a ter. Por isso, fundou o F.A.L.E, a Fundação de Apoio à Libertação dos Elfos Domésticos, uma organização para defender os elfos, buscando dar a eles direitos e a busca pela liberdade.
Isso mostra um pouco mais de como ocultam e mudaram a personalidade dela, pois com isso podemos enxergar um lado mais abolicionista da personagem. Uma das características muito fortes dela é a luta pelo que acredita ser certo, mas isso é apagado em escolhas como não mostrar de onde era a comida da escola de magia e bruxaria.
Fotografias e direção de arte
Algumas adaptações de ficção podem ter dificuldades em passar algo escrito para o visual, já que os recursos são mais limitados se comparados à imaginação. Ainda assim, os filmes tiveram um sucesso incrível em conseguir captar as imagens e fazer cenários muito parecidos com os descritos nos livros.
Os filmes de Harry Potter conseguem adaptar muito bem coisas que sabemos que não conseguiriam ser feitas para telas facilmente, como o Torneio Tribruxo. Esse evento teve cenas um pouco distantes dos livros, mas que foram totalmente compreensíveis, afinal não existe magia na vida real, até onde nós trouxas sabemos.
A arquitetura do castelo, mesmo que em CGI (Computer Graphic Imagery, Imagens geradas por computador), ficou igual em várias partes. As escadas que se movem e as entradas das comunais de cada casa foram fiéis aos livros com gosto. Falando em CGI, como eles faziam as crianças voarem em vassouras eu não sei, mas que ficou ótimo e nada falso é um fato!
Não podem faltar também as fotos que se mexem nas molduras e nos jornais, esses detalhes lembrados foram muito apreciados pelos fãs. Aspectos como estes realmente mostraram como existiu esse cuidado da parte dos produtores e do diretor e fizeram diferença para quem leu a saga.
Sequências apreciadas
Escrever sete livros não é fácil, imagina produzir oito adaptações cinematográficas e conseguir capturar a essência em si em todos os filmes? Claro que os filmes poderiam ter abordado várias coisas de formas diferentes, mas ainda assim é considerado por muitos a melhor adaptação de livros que existe.
É admirável o esforço e o sucesso de conseguir conduzir obras para o cinema que deram tão certo. Tanto os livros quanto os filmes se tornaram algo presente na vida de milhões de pessoas que viajam para parques de diversões temáticos, colecionam souvenirs e produtos exclusivos, participam ativamente de grupos de fãs e carregam a história fictícia em seus corações.
Com isso pode se dizer que, por mais que tenha todos os erros “quase” imperceptíveis que valem a pena ser comentados, o grande valor das adaptações está naqueles que sabem apreciá-las como uma forma de arte nostálgica e bonita que elas representam.