Onde estão os amarelos?
- 29 de março de 2023
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- Theillyson Lima
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A diferença do preconceito entre negros e amarelos, é que aos últimos foram concedidos os privilégios de ‘quase brancos’.
Camilly Inacio
Quem são os amarelos? Entre as cinco opções apresentadas pelo IBGE, a denominação “amarela” se refere aos descendentes de japoneses, chineses, taiwaneses, coreanos e outros grupos cujas famílias saíram do Leste Asiático para o Brasil. De acordo com os dados, essa classe representa quase 1% da população.
Pode até ser que pareça um número baixo, mas segundo o censo de 2010 a quantidade de brasileiros que se autodeclaram amarelos passa dos 2 milhões. Para exemplificar esse número, basta observar que fora do Japão, a maior comunidade japonesa está no Brasil. No entanto, apesar de ser uma comunidade tão grande, o preconceito, mesmo que velado, ainda permeia os asiáticos.
O estereótipo aumenta a invisibilidade
Os asiáticos estão dentro de um estereótipo chamado de ‘mito da minoria modelo’, quando um grupo é valorizado e oprimido ao mesmo tempo. O mito diz respeito a uma “minoria que deu certo”. Por vezes existe um conflito entre apreciação da raça e o medo de ter o ‘espaço branco’ ameaçado por tal grupo. Muitas vezes também existe a fetichização do fenótipo. Em resumo, esse mito os coloca em uma posição diferente de minorias como afrodescendentes e indígenas.
Logo, a principal diferença entre asiáticos e negros é que aos asiáticos foram concedidos os privilégios de ‘quase brancos’. Essa colocação do amarelo como um ‘quase branco’, contribui para um dos maiores pilares do preconceito amarelo, a invisibilidade. Com a diluição entre asiáticos e brancos no Brasil, essa classe é apagada aos poucos. Além disso, essa racialização ignora uma série de costumes, tradições e religiões típicas de cada povo. Assim, o asiático fica sem espaço na sociedade, e sua convivência se torna pacífica, mas não integrada.
Podemos perceber essa invisibilidade ao descobrir que existem cidades brasileiras que são colônias de determinados países e os próprios brasileiros não sabem. Como exemplo, temos a cidade de Marília, no estado de São Paulo, que é uma colônia japonesa. Mesmo sendo um local em que a cultura japonesa é perpetuada entre os descendentes, ela quase não é exposta na mídia.
Ao analisar diversos jornais, vemos que tais povos são naturalmente “esquecidos”. Do mesmo modo, vemos que em próprios sites de colônias asiáticas, como o site da prefeitura de Marília, pouco se fala publicamente sobre a cultura japonesa. Notícias e anúncios sobre a própria cultura são deixadas em segundo plano.
A generalização do estereótipo
Entre a classe dos amarelos existem diversas nacionalidades, mas dificilmente conseguimos diferenciar japoneses de chineses ou coreanos e taiwaneses, etc. Tais povos possuem semelhanças, mas isso não os torna iguais, pelo contrário, cada um tem características próprias, mas diversas vezes são colocados em uma só caixa.
Em uma das muitas falas repletas de estereótipos, existe uma que caracteriza exatamente isso, pois na maioria das vezes uma pessoa com um olho um pouco mais puxado já foi chamada de “japa”. Além do preconceito velado, caracterizando a generalização dessas raças, a individualidade de cada raça não é levada em conta.
Além do mais, essa generalização solidifica o preconceito contra os mestiços. São brasileiros demais para serem asiáticos, e asiáticos demais para serem considerados brancos. Através do estereótipo asiático generalizado que é formado em nossas mentes, muitas vezes esses mestiços não se enquadram no que pensamos que são os amarelos.
A mídia e a perpetuação do preconceito
Todavia, muito do que foi exposto deriva de uma perpetuação midiática sobre o assunto. A começar pela representação quase inexistente de amarelos em produções midiáticas como filmes, séries, novelas, entre outros. No Brasil, por exemplo, em uma novela que retratava uma história sobre a imigração japonesa, os protagonistas eram brancos.
Com a ideia de transformar conteúdos que falam sobre outras etnias mais apetitosos para os próprios brancos, esse apagamento é descarado. Outra observação é que as poucas pessoas realmente amarelas na produção eram mulheres, que usualmente são vistas por um prisma de sexualização e submissão de acordo com o estereótipo asiático.
A ancestralidade se torna um artifício usado para a invisibilidade dos amarelos para a sociedade fazendo com que eles apenas tenham espaço entre eles mesmos, causando separação, ignorância e mais preconceitos. O colorismo continua então, sendo rotina.