E se os governadores controlassem a televisão?
- 26 de outubro de 2022
- comments
- Theillyson Lima
- Posted in Análises
- 0
Dentro ou fora do período eleitoral, a televisão e o jornalismo devem ser apartidários e livres para investigar o que for necessário.
Mariana Santos
Em tempo de eleições, o telejornalismo é responsável por receber candidatos para os tão esperados debates. Atualmente, há divergências quanto à real importância dos debates, principalmente considerando a forma como a televisão pública está “dando palco” para discursos questionáveis, contudo, o programa continua atraindo a atenção do público.
Por mais que os debates sirvam como ferramenta de manutenção da democracia, esse momento de exposição de ideias perde força caso os candidatos possuam algum tipo de controle da situação. É esse tipo de controle, que deveria ser evitado, que pode ser observado na disputa eleitoral pelo governo da Bahia.
Eleições na Bahia
No estado, dois candidatos estão disputando o segundo turno das eleições, Jerônimo Rodrigues (PT) e ACM Neto (União Brasil). Mesmo que os nomes não pareçam familiares para pessoas de outras regiões, o segundo candidato citado faz parte de uma importante família no ramo das telecomunicações.
De acordo com o site da Rede Bahia, a emissora foi criada em 1985 e logo se tornou afiliada da Rede Globo. Hoje, Antônio Carlos Magalhães Júnior (ACM Júnior) preside a empresa, contudo, é de conhecimento público a influência que boa parte da família Magalhães exerce sobre a TV, incluindo o candidato a governador.
Parcialidade e influências externas
Durante o primeiro turno das eleições, ACM Neto se recusou a participar de debates que ocorressem fora da rede de seu pai, gerando desconfiança nos eleitores. Para aumentar a instabilidade, a Rede Aratu de televisão, cuja CEO é vice de ACM, não organizou debates enquanto o candidato estava em vantagem, contudo, anunciou a programação no segundo turno quando Jerônimo assumiu a liderança. Como forma de retaliação ao controle televisivo, Jerônimo Rodrigues se recusou a participar do debate na Rede Aratu.
Nas redes sociais, principalmente no Twitter, o público tem manifestado insatisfação com a influência dos candidatos sobre os veículos de comunicação e questionando a qualidade (e veracidade) das informações apresentadas. De forma semelhante ao restante do país, a televisão na Bahia tem sido utilizada de forma indevida durante as eleições. Mas até que ponto os jornalistas têm autonomia para interferir em algo?
Quando determinada empresa é dirigida por representantes que tornam públicas as suas preferências políticas, é inevitável pensar na pressão exercida sobre os funcionários da emissora. No caso das Redes Bahia e Aratu, os familiares da diretoria não apenas se posicionam politicamente, mas também concorrem a cargos públicos.
O estado da Bahia, conhecido pelo forte apoio ao Partido dos Trabalhadores, tem recebido uma enxurrada de propagandas políticas que visa conquistar espaço para partidos ligados ao presidente Jair Bolsonaro, e por consequência a ética jornalística tem sofrido ataques constantes.
Em um contexto de polarização política, nenhum dos lados deveria ter influência dentro dos veículos jornalísticos. É justamente o apartidarismo que garante seriedade e liberdade de expressão aos jornais. Os profissionais devem possuir espaço para questionar e investigar qualquer assunto de interesse público, inclusive candidatos ao governo.