A discussão feminista e as faces de Amber Heard
- 23 de agosto de 2022
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O julgamento mais comentado e discutido dos últimos meses, Johnny Depp versus Amber Heard, foi largamente influenciado por discursos ideológicos.
Melissa Maciel
O conteúdo do processo que envolveu os astros Johnny Depp e Amber Heard, foi amplamente televisionado. Isto permitiu que milhões de pessoas se engajassem na discussão do caso, mas não só isso, enquanto os trâmites da polêmica eram desenvolvidos na corte, um julgamento paralelo ocorria nas mídias sociais. Massas de ativistas digitais se punham a propor seu posicionamento e julgar enfaticamente as partes envolvidas.
Nesse viés, um dos fatores que mais marcou a construção midiática da imagem dos envolvidos no processo foi a pauta ideológica, sobretudo a vertente feminista. Muito se discutiu sobre a posição e credibilidade da mulher mediante situações de acusação contra violência doméstica. Mas nesse caso que chocou o mundo, a discussão também abordou a manipulação de informações em prol da acusação de um homem que também sofreu agressão da própria mulher.
Construção feminista da imagem de Amber Heard
Inicialmente, Amber recebeu apoio de integrantes de movimentos feministas de todas as partes do mundo, mesmo sem provas concretas de sua acusação. Como em muitas ocasiões apresentadas no julgamento havia a palavra dela contra a palavra de Depp, ou as testemunhas de um, diante das testemunhas do outro, além da maciça midiatização do processo, é visível o espaço que foi aberto para especulação.
Muitas perspectivas foram expostas e não faltaram artigos de opinião sobre o caso. Em um artigo publicado pela Folha de São Paulo, foi apresentada a perspectiva de uma desigualdade constante entre as partes durante o julgamento. Partindo de uma análise especulativa do comportamento dos envolvidos e seus respectivos defensores judiciais durante o processo na corte, o artigo trouxe a advogada de Depp como opressora e o ator como alguém que mantinha uma artilharia publicitária engajada na ridicularização de Amber nas redes. Além de colocá-lo como uma estrela decadente desesperada por restabelecimento.
Tais perspectivas, no entanto, negligenciam pontos muito importantes. Os comentários ofensivos e ridicularizações nas mídias sociais são um fato inegável. Mas e a questão de que Depp foi pintado como monstro abusador por uma massa feminista, mesmo antes da análise de elementos comprobatórios? Massa que continuou a defender essa imagem mesmo depois de provas claras das agressões por parte de Amber Heard.
Além disso, a advogada do ator no tribunal manteve uma postura incisiva mediante Amber e suas testemunhas, o que é a função de um defensor judicial. Amber não estava desprotegida, também tinha defensores contratados para operarem em seu favor, sendo que a função de cada um era atuar com competência. O artigo também colocou o ator como alguém desesperado por restabelecer a carreira em decadência devido às acusações. No entanto, até que ponto a reação de Depp era desespero por recuperar a boa imagem a qualquer custo, ou simplesmente o direito de defender-se de acusações dúbias e não comprovadas que o difamaram e prejudicaram sua atuação profissional?
A revista de jornalismo feminista denominada AzMina, mesmo depois das provas e testemunhos apresentados, posicionou Amber como uma vítima traumatizada que apenas reagiu de maneira diferente do que se espera. Defenderam que a afirmação de que havia violência das duas partes, é uma forma de minimizar as denúncias de agressão apresentadas pela ex-esposa.
Mas a realidade é que, de fato, houve agressão mútua, e mediante um julgamento em um país que se diz democrático, a violência por parte da mulher não pode ser desconsiderada ou subestimada. Se ambos têm tendência abusiva em um relacionamento tóxico, ambos devem ser julgados como tal. A justiça não pode ser suprimida em nome da ideologia.
A revista apontou ainda que esse caso demonstra uma vontade de que as mulheres estejam mentindo. Tal afirmação é um tanto contraditória, porque apesar de que o descrédito com casos de violência contra mulher seja uma infeliz realidade, a suposta vítima neste caso específico, estava comprovadamente mentindo.
Os dois lados da culpa
Outro artigo de opinião divulgado sobre o episódio, desta vez do jornal A Gazeta, defendeu que “é relativamente natural que falsas acusações sejam notadas à medida que a manutenção e aprimoramento de leis protetivas a favor das mulheres progridem, no entanto isso não pode ser usado para descredibilizar todo caso que se acompanha no dia a dia.”
Apesar de neste caso Amber Heard ter mentido e manipulado provas, a violência contra a mulher é uma realidade persistente por todo o mundo e, realmente, a conduta imoral de uma mulher não pode ser tomada como regra para descrédito de todas as acusações de abuso.
Além disso, o artigo sustentou que as meias verdades e cenas adulteradas apresentadas por Amber Heard anularam as provas de violência verbal e psicológica que ela sofreu, e que seu dano psicológico foi reduzido a nada. Enquanto isso, o ator foi apresentado como alguém completamente injustiçado e anistiado, mesmo tendo parte nos erros e conflitos que permearam a relação.
Nessa perspectiva, o que todo este longo e polêmico processo de análise de provas e testemunhos deixa bem claro, é que neste conflito não há vilão ou mocinho, inocente injustiçado versus criminoso perverso. O que há são duas pessoas psicologicamente desequilibradas que com seus impulsos tóxicos e abuso de substâncias ilícitas, contribuíram para um relacionamento completamente problemático. Foi essa a realidade apresentada ao público e passar por cima disso para defender a mulher a qualquer custo, é contradizer os próprios princípios defendidos pelo feminismo.
O perigo de um julgamento fundamentado na ideologia
É possível que o sustento de uma ideologia leve o ativista a uma militância cega? O caso Depp e Heard demonstrou que sim. Nesse seguimento, o programa Segunda Opinião, do jornal Gazeta do Povo, promoveu uma discussão entre quatro intelectuais sobre a influência da ideologia feminista em julgamentos de acusações de abuso, como o dos dois astros de Hollywood.
O episódio destacou que muitas feministas passaram a abraçar a causa com um viés destrutivo, visando adquirir poder, não mais trazendo uma questão de igualdade, mas de ser superior, colocando todas as mulheres como potencialmente boas e todos os homens como potencialmente maus.
Com isso, se explica como as mídias observaram os tribunais feministas paralelos dando sentenças mesmo antes que a justiça analisasse as provas e discursos dos envolvidos. Segundo a convidada do programa, a especialista em educação, palestrante e comentarista política, Paula Marisa, uma vez que vivemos (ou deveríamos viver) em um Estado Democrático de Direito, precisamos ouvir os dois lados da história, analisar os elementos probatórios, ou seja, respeitar o processo judicial, porque esta não é a primeira e nem será a última vez que uma mulher mente.
Os participantes do programa Segunda Opinião salientaram como tentativas de privilegiar-se dos benefícios adquiridos pela população feminina, põem em jogo a credibilidade de verdadeiras denúncias. Dessa forma, as vítimas reais, que efetivamente necessitam de defesa, acolhimento e proteção, ficam mais à mercê dos agressores, que se sentem cada vez mais à vontade para cometer suas atrocidades.
Diante de tudo o que se observou neste conflituoso caso, é possível perceber como não se pode permitir que a ideologia subestime o caráter dúbio de supostas vítimas. É inquestionável como a violência contra a mulher é um problema perene no Brasil e no mundo, um problema que demanda seriedade e justiça em seu tratamento, no entanto, como vimos, nem todas as mulheres são vítimas honestas.
Na empreitada por direitos iguais, tanto homens como mulheres devem ser indiciados e questionados por suas faltas, ninguém deve ser colocado em um pedestal, ou em uma inalcançável torre de marfim. Engano e manipulação são incrivelmente comuns à natureza humana e até que se prove o contrário, o processo deve correr de forma imparcial. Não se pode inocentar alguém em nome da ideologia.