Xenofobia no humor: a piada do ignorante
- 10 de novembro de 2021
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O riso, santo remédio, a xenofobia, maldita prática
Hellen Piris
A prática da xenofobia no humor é cada vez mais condenada, porém, ainda é comum nas apresentações de humoristas que pela falta de repertório competente e profissional, incluem comentários depreciativos sobre as características, costumes ou cultura de outros países ou regiões do Brasil.
As peculiaridades de cada povo ou estado nos parecem curiosas e até engraçadas em algumas ocasiões. O diferente chama a atenção e nos sentimos atraídos por ele. Por isso, o gringo ou o indivíduo de um estado diferente se torna uma pauta interesante para os humoristas de profissão ou por aqueles individuos adeptos as piadas de mal gosto. Atualmente as pautas abordadas por estes profissionais são das mais variadas. Situações cotidianas engraçadas, sogras, crianças, casamento, classes sociais.
Porém, existe uma linha muito tênue entre piadas amistosas sobre estrangeiros e xenofobia. Há uma grande diferença entre o artista que busca enaltecer a cultura estrangeira ou a outros estados e aborda os seus diferenciais, e entre aquele que propositalmente ridiculariza os costumes ou maneira de ser dos indivíduos de outras nacionalidades e regiões.
Soluções para a xenofobia por comediantes?
O Comedy Central Brasil é um canal de televisão por assinatura que produz conteúdo de entretenimento stand up e que desenvolveu o “Comediantes Resolvem Problemas do Mundo”, um programa que convida humoristas e comediantes brasileiros para discutir sobre problemas sociais e sugerir possíveis soluções a estas situações e problemáticas. No episódio em que a xenofobia é abordada, os comediantes Arianna Nutt e Junior Chico conversam sobre o assunto e focam na xenofobia que eles mesmo sofreram em algum momento das suas vidas por serem nordestinos. No diálogo, eles destacam o seu sotaque como um dos principais aspectos pelos quais as pessoas em certas ocasiões os criticam os tratam com indiferença.
Durante os quase seis minutos do episódio, os comediantes também apontam a falta de conhecimento geográfico dos indivíduos que fazem piadas por eles pertencerem a outra região. Os humoristas até que debatem sobre o assunto com um toque de humor e leveza, como é próprio das suas profissões, no entanto, em casos em que o comediante se preparou para menosprezar o indivíduo, a ofensa e desconforto é real e dura.
Tanto para Arianna como para Junior, praticar a xenofobia é característica de indivíduos ignorantes, e ela não pode ser considerada liberdade de expressão e muito menos entretenimento. O humor projetado para ofender um estrangeiro ou até um indivíduo do próprio país, não merece palco, visualizações e aplausos.
Humor para rir, não para ferir
Nem todos desenvolvem a arte de fazer rir ao público. Ela é especial e valiosa, o ser humano precisa dela. O riso não apenas é uma ferramenta emocional que une pessoas e fortalece laços, mas também tem benefícios fisiológicos segundo a psicóloga e professora Janet M. Gibson.
O fato de rir e fazer rir deve ser praticado responsavelmente por aqueles que o exercem e precisa visar a sensibilidade e conforto daqueles que o desfrutam. A xenofobia em qualquer ambiente, incluindo o da comédia, é crime, é desumano, e deve ser evitada sem justificativas. Afinal, como manifestaram Arianna e Junior, o indivíduo xenofóbico além de ignorante, não aprendeu a apreciar a cultura do exterior.