O vilão da fome ressurge no Brasil
- 20 de outubro de 2021
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Um problema fundamental que havia sido resolvido no país nos anos 2000, retorna para assolar 19 milhões de brasileiros.
Esther Fernandes
“Você tem fome de quê? A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte”. A letra da música ‘Comida’, da banda brasileira Titãs, questiona o direito fundamental acompanhado de outros desejos pertinentes. Desde 2020, o Brasil apresenta um cenário preocupante em relação a alimentação básica. Após 17 anos, mais de 50% da população não possui segurança alimentar, isso corresponde a 116 milhões de brasileiros, tendo que diminuir a quantidade/qualidade da comida do prato.
Os números são alarmantes: a pandemia deixou rastros de fome, atingindo 9% dos brasileiros, total de 19 milhões de pessoas. Esse é o maior registro desde de 2004, quando a taxa chegou a 9,5%, segundo a pesquisa realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
As perspectivas para o futuro são desanimadoras. Os dados da pesquisa foram coletados no último trimestre de 2020, quando ainda estava sendo distribuído o auxílio emergencial de R$300. Esse ano, o valor diminuiu e menos famílias foram contempladas. Apesar da grave crise ocasionada pela pandemia, esse não é o único fator para o aumento da fome no Brasil.
Desde quando assumiu o país, o presidente Jair Bolsonaro extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, o Consea. Esse órgão propunha ao governo federal diretrizes sobre a alimentação da população, abrindo uma comunicação entre o governo e a sociedade civil. Outros programas de combate à fome, como o bolsa família ou o próprio auxílio emergencial, não possuem estrutura necessária para a manutenção de uma família.
Sem políticas públicas eficazes e com uma crise sanitária que assolou a economia do país, pessoas com maior vulnerabilidade social ficaram expostas a escassez do recurso mais básico do ser humano: comida. Como se já não bastasse a falta de cultura, educação básica e superior, saúde, diversão e outros fatores necessários para uma qualidade de vida, o brasileiro precisa se preocupar com a insegurança real da falta de alimento.
De forma recorrente, veículos de comunicação têm noticiado as tentativas da comunidade de driblar a fome. Filas quilométricas em açougues para receber ossadas e o aumento no consumo de pé de galinha são os cenários que retratam a fome no Brasil. Apesar das pequenas expectativas de melhora e o acréscimo significativo da crise alimentícia, os olhares estão atentos para um futuro de progresso e desenvolvimento.
O Brasil necessita de uma reforma, que só acontecerá através da insatisfação coletiva e da organização comunitária. Programas como Fome Zero, que tiveram êxito nos anos 2000 e foram adormecidos, precisam retornar como uma tentativa de reverter o quadro de desnutrição e instabilidade do país.