A intencional desvalorização do cinema nacional
- 12 de maio de 2021
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Muito mais que uma infelicidade do acaso, a falta de apoio à produção cinematográfica no Brasil é uma estratégia
Mariana Santos
É fácil defender a ideia de que nenhum país se absteve totalmente da influência estrangeira, principalmente graças ao estudo da globalização. Porém, apesar de sabermos que nem toda influência é negativa, o pensamento crítico não deve se limitar a isso. No século 21, é difícil imaginar estratégias agressivas de manipulação entre os países, já que as propagandas explícitas comuns na Guerra Fria ficaram no passado. Entretanto, o conceito de Soft Power veio para nos lembrar que a guerra psicológica está longe de acabar, muito pelo contrário, a guerra se mostra presente na profunda desvalorização do cinema nacional.
A nossa produção cinematográfica viveu seus dias de glória na década 70, quando o governo ditatorial militar decidiu apoiar o nacional com a ideia de “combater” influências vindas de Hollywood, apesar de impor censura, é claro. Temas leves sobre camponeses trabalhadores eram os preferidos, uma vez que não atraiam a atenção do público para as ações governamentais, porém todo esse progresso não durou muito tempo. Na década de 80, a crise econômica também afetou o cinema brasileiro, quando o então presidente Fernando Collor de Mello retirou, por intermédio de medidas provisórias, os incentivos ao setor.
Nos anos posteriores ao Collor, algumas tentativas de desenvolver melhor a indústria do cinema foram empregadas e desfeitas dependendo da ideologia adotada pelo governo vigente, mesmo assim, a nossa situação não está muito diferente de 30 anos atrás. No início do mês de abril, a Agência Nacional de Cinema mudou sua sede do Rio de Janeiro para Brasília, e esse é um dos resultados das ações do atual presidente da república, Jair Bolsonaro, que ameaçava a agência desde 2019.
Os filmes brasileiros são desvalorizados pela própria nação, primeiramente por quem deveria patrocinar a produção cinematográfica e, por extensão, pelo público alvo. A estratégia do governo atual de se aproximar dos Estados Unidos politicamente, reforça o “complexo de vira-lata”, tão forte entre brasileiros que se sentem inferiores ao resto do mundo.
Não se pode negar que por muito tempo os filmes produzidos no Brasil se limitaram a frivolidades e comédia, mas a verdade é que o conteúdo complexo e bem produzido não recebe o apoio do público necessário para consolidar esse tipo de conteúdo no país. O Soft Power é uma expressão usada para explicar a tática de manipular uma nação usando a cultura e a ideologia. É, normalmente, usada entre relações internacionais, mas para os brasileiros essa pode ser considerada uma estratégia de guerra civil do governo contra a população.