Masterchef: sabor não é tudo
- 9 de março de 2020
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- Thamires Mattos
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Comida e entretenimento mantém a fidelidade de um povo –, em tempos modernos, a audiência
Ana Clara Silveira
O mau humor pode ser provocado por diversos fatores, entre eles, a falta de alimentação. De fato, a ingestão de determinados alimentos costuma acelerar a produção de hormônios diretamente relacionados à felicidade. Não é por acaso que muitas pessoas reforçam o ditado popular: “Cara feia, para mim, é fome”. A ausência de serotonina – responsável pela comunicação eficaz entre os neurônios – pode ser um forte aliado ao estresse. É por isso também que a comida é uma companheira da interação social. É comprovado. Reuniões com uma boa refeição tendem a ser mais felizes.
O costume de reuniões em torno do “pão” foi relatado em civilizações muito antigas. Cristo compartilhou momentos à mesa com seus amigos, e, além dele, outras figuras conhecidas. Essa cultura atemporal, assim como o mundo, se reinventa e busca novas formas de existir. Nós não somos os mesmos, nem o que fazemos.
A adaptação aos meios de comunicação e a apreciação à culinária criou uma série de programas, filmes, séries e reality shows. Mas, levando em conta que julgar um prato demanda deglutir, saborear e desfrutar sensações que a textura, cheiro e visual provocam… como justificar o sucesso de um programa sobre sabor em que você não experimenta? Bem-vindo ao Masterchef!
O reality show foi produzido pelo Brasil a partir do ano de 2014. A competição dura quatro meses e reúne de 19 a 21 participantes em busca do título de melhor cozinheiro do país. A cada episódio, os integrantes recebem desafios e são eliminados por decisão dos temidos chefes: Paola Carosella, Érick Jacquin e Henrique Fogaça.
Conhecidos pela audiência brasileira como severos, os chefs e suas reações são um dos pontos de maior interesse do público. A seriedade de Fogaça, a classe de Paola, e, especialmente, o sotaque de Jacquin, rendem muitas imagens – leia-se: memes – na internet. As avaliações são rapidamente comentadas nas redes sociais, confirmando os estudos de Henry Jenkins, que, em suas teorias, esclarece o potencial do uso complementar das mídias sociais.
A emissora Band errou e produziu muitas temporadas seguidas por conta do sucesso do programa. A falta de respiro deixa o público cansado. Ainda assim, o programa consolidou uma das exibições de maior ibope da rede em suas temporadas. Para tornar seu produto novamente comercial, a emissora fez em sua última edição o “Masterchef: A revanche”, além de reforçar seus spin-offs “Masterchef Kids” e “Masterchef Profissionais”.
Os participantes selecionados em todas as edições anteriores foram reunidos em um embate que já contava com público cativo e personagens com torcida. A diversão e interação de quem assiste sempre será potencializada por uma boa história. Por isso a narrativa é tão importante. A simpatia e identificação com um candidato cria um fascínio pelas personalidades, comportamentos e te carrega para uma trama que envolve vilões e mocinhos. Comida e entretenimento mantém a fidelidade de um povo, e, em tempos modernos, a audiência.
Embora o olfato seja o principal sentido a provocar e buscar memórias, a visão também tem seu papel na ativação das recordações. Ver algo que apreciamos permitiu ao Masterchef se tornar uma fórmula brilhante de reality show. Ainda que você não tenha experimentado nenhum daqueles pratos, o programa é uma delícia. Sabor não é tudo.