O estatuto do desarmamento segundo a Folha de São Paulo
- 18 de abril de 2019
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- Thamires Mattos
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O jornal tem como trunfo em sua linha editorial o diálogo com os setores progressistas da sociedade
Leonardo José
Os últimos meses foram de intensidade para o jornalismo brasileiro. Com o advento do termo “Fake News”, que logo virou bravata, o cidadão fanático politicamente passou a não medir consequências ao utilizar tal expressão em prol das suas pautas de interesse. No decorrer das campanhas eleitorais de 2018, muito foi dito sobre o que é verdade. Um dos veículos mais afetados, pela sua envergadura e tradição, foi a Folha de São Paulo. Como é de conhecimento dos leitores mais assíduos de mídias convencionais, a Folha tem como trunfo em sua linha editorial o diálogo com os setores progressistas da sociedade.
Por se identificar costumariamente com ideários de centro-esquerda, sobre o Estatuto do Desarmamento a linha-editorial da Folha não adota postura que favoreça a flexibilização do porte e posse de arma. Logo nos primeiros anos do seu portal online, em 1997, um colunista havia escrito um artigo intitulado “Desarmar é preciso”. O então advogado e presidente da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, José Gregori, deixou no intertítulo a pergunta: “O desarmamento é eficaz para aumentar a segurança da população? ”. Logo em seguida, ele responde que sim. No mesmo ano, outro artigo foi publicado – escrito pelos repórteres Daniel de Castro e Rogério Schlegel –, argumentando que as posses de armas aumentam gradativamente os índices de violência por ano.
Todavia, houve espaço para que um político favorável ao direito do cidadão se armar tivesse espaço. Ainda no ano de 1997, o então deputado federal Roberto Jefferson defendeu que é direito inalienável do indivíduo ter acesso a autodefesa. “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”, argumentou Roberto, utilizando o texto reconhecido na Constituição e defendido no Código Penal.
O período de governo de Fernando Henrique Cardoso chegou ao fim em 2002, e, em 2003, deu-se início ao governo Lula. Após dois anos de gestão, o Estatuto do Desarmamento foi referendado. A opinião da Folha foi mantida. Eram apresentados dados que corroboravam para uma opinião negativa em relação ao porte de armas pela população. Como exemplo, temos que, um dia após a assinatura do decreto da regulamentação do desarmamento pelo então presidente Lula (22 de dezembro de 2003), foi publicada uma coluna opinativa escrita por Eduardo Scolese. Ele questionou uma suposta lentidão dos ministros do Governo Lula para a conclusão desta pauta.
Menos de uma década após a aprovação do Estatuto do Desarmamento, o Brasil bateu por algumas vezes o recorde no número de homicídios por 100 mil habitantes. Porém, em 2018, no ano eleitoral, a Folha divulgou que o “país freou alta de mortes após estatuto”. Ou seja, não citou o aumento no número de assassinatos no Brasil, mas sim a queda no aceleramento anual no número de homicídios. A intenção de tal manchete foi clara: de contrariar a proposta do então candidato à presidência Jair Bolsonaro, defensor e entusiasta do armamento da população.