Gazeta do Povo dispensa meandros
- 18 de abril de 2019
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- Thamires Mattos
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Colocado na “mira”, o jornal paranaense deixa clara sua posição em relação à questão armamentista
Rafaela Vitorino
O jornal Gazeta do Povo tem a direita como convicção política, e isso é demonstrado sem rodeios. Partidos de direita abrangem conservadores e liberais, características que a Gazeta bem conhece e não se contém a explicitar. Mas, se há dúvidas, basta acompanhar a descrição do blog de Rodrigo Constantino. Define-se como “um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda ‘politicamente correta’”. Ele é autor de livros como “Esquerda Caviar” e “Contra a Maré Vermelha”. Em seu texto intitulado “Sobre o Golpe de 1964”, afirma que o golpe, responsável por instaurar uma ditadura militar no Brasil, foi encarregado de livrar os brasileiros de um regime ainda mais repressor. Isso é dito para reforçar sua opinião principal: as Forças Armadas devem comemorar o golpe de 1964.
Apesar de ser um blog expressamente opinativo, ele reflete a linha editorial – que a Gazeta lista abertamente em seu portal. Dentre os principais pontos, destacam-se o viés liberal-conservador, crença em verdades absolutas e objetivas, a defesa da família, do direito à vida e o desprezo ao aborto. Além disso, há críticas ao movimento feminista, defesa do fenômeno religioso e enfatização exacerbante no Princípio da Subsidiariedade: menos participação do Estado e maior participação do cidadão.
Quanto ao cidadão, o jornal defende seu direito de liberdade e autonomia. Talvez parta daí o embasamento para a questão armamentista. Seria o armamento da população um direito? Em uma de suas matérias, publicada exatamente no dia em que o presidente Jair Bolsonaro assinou o decreto de flexibilização da posse de armas, o título fala do impacto que o decreto irá causar no Paraná. Levando em conta os dados acerca do número de mortes por habitante, o estado é uma das áreas em que a posse é considerada “necessária”. Dias antes, o jornal havia publicado outra matéria mostrando a expectativa criada pelo novo decreto, levando ao aumento do interesse pela compra de armas em Curitiba.
Constantino deixa sua posição ainda mais clara ao salientar que “O Estatuto do Desarmamento não reduziu os homicídios” ainda no título de um de seus artigos, e construir a linha fina baseando-se em sua ideia de que dar os créditos de redução de homicídios à lei é conferi-la um “tipo de poder místico”. O artigo alega que o argumento de a lei haver causado redução nos homicídios é uma falácia. Em outra situação, ao mencionar o crescimento de opinião contrária à liberação da posse de armas, a reportagem enfatiza o fato de o índice variar de acordo com o estudo e a renda; quanto mais pobre e com menos estudo a pessoa é, menos favorável à liberação. Destacam afrouxamento da lei ao longo dos anos e acreditam na possibilidade de o estatuto desmoronar em 2019.
Carlos Ramalhete é outro colunista que não poupa críticas ao pensamento opositor. Em seu texto “Desarmamento”, ele ironiza parte da imprensa a favor do desarmamento ao chamá-la de “extrema imprensa” e de “desarmamentistas radicais vomitando as besteiras de sempre”. A ironia não para e se atreve à desvalorização dos argumentos, não com contra-argumentos fundamentados, mas sim com mais ironia e sarcasmo. É notável que
Ramalhete está mais preocupado em satirizar a oposição do que argumentar a favor da própria crença.
Por fim, encerramos com o seguinte título: “Projeto que derruba Estatuto do Desarmamento está pronto. Só falta ajustar a mira”. É preciso dizer mais alguma coisa ou fica claro que a mira faz parte daquilo que a Gazeta do Povo acredita?