O tempo passa, os meios mudam, o principio permanece
- 30 de outubro de 2017
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- Thamires Mattos
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A mídia é a grande responsável pela disseminação de informações. O tempo e a evolução dos meios não foram capazes de modificar os princípios jornalísticos adotados pela BBC
Thaís Alencar
O atentado terrorista de 11 setembro, nos Estados Unidos, foi um marco na história. Enquanto as torres gêmeas se rendiam ao chão, o mundo testemunhou como poucas vezes até onde a crueldade do ser humano era capaz de ir. O acontecimento, as possíveis razões e as consequências foram exploradas à exaustão pela mídia e não cabe a nós analisar o comportamento dos meios no referido momento. Fato é que a partir de 11 de setembro, o medo passou a fazer parte da vida das pessoas de forma real e efetiva. Antes disso, a ideia de dois aviões colidindo contra dois prédios só era possível em filmes de Hollywood.
Infelizmente este foi apenas o primeiro de muitos atentados que aconteceram no mundo desde então. O número crescente e o curto intervalo de tempo entre um e outro bem como o espaço que eles ocupam na mídia são algumas das possíveis razões pelas quais atentados terroristas estão se tornando comuns. Se você tem alguma dúvida disso, pare e pense: O que você estava fazendo no exato momento em que surgiram as notícias de 11 de setembro? Você se lembra com a mesma intensidade dos atentados ocorridos na Espanha em abril de 2004 e na França em julho de 2016? É bem provável que não.
Os meios de comunicação têm o objetivo de registrar as notícias do cotidiano e por assim fazer, acabam contribuindo para o registro da história ou de recortes dela. A BBC desempenhou um papel importante na cobertura destes dois atentados ocorridos na Europa, uma vez que a mídia nacional se apodera muito das informações veiculadas pelos meios internacionais em situações como essas.
A BBC de 2004
O dia que prometia ser mais um entre tantos outros de trabalho para a população da Espanha tornou-se um pesadelo para aqueles que optaram pelo meio de transporte mais comum naquela região: o trem. Afinal, quem poderia imaginar a explosão de uma bomba dentro de um vagão de trem ceifando a vida de uma pessoa e ferindo mais de uma centena? Assim que as notícias chegaram à redação, a BBC iniciou o processo de cobertura e neste primeiro momento, temos as informações organizadas na forma de texto. Se tomarmos, por exemplo, a matéria intitulada “Explosão mata uma pessoa em Madri”, publicada no dia 03 de abril de 2004, veremos um texto relativamente curto e focado no fato. A foto é bem pequena.
As matérias desta época parecem atestar o quanto o veiculo em questão ainda não tinha aprendido a respeito das potencialidades do mundo conectado. Os princípios jornalísticos são mantidos e o mais interessante de se notar é que mesmo diante da preocupação em transmitir os fatos com veracidade, a BBC não deixa as pessoas de lado. As vitimas e as famílias nunca são apenas números, há uma preocupação constante de se fazer jornalismo com equilíbrio, responsabilidade e a sensibilidade exigida em situações como estas.
A crueldade do homem a ponto de atentar contra a vida de seu semelhante não é um fenômeno muito fácil de ser explicado, embora os estudiosos das ciências sociais estejam sempre buscando respostas. Sabendo do anseio de seus leitores por explicações, o veiculo sempre tentou trazer possíveis razões para os atentados. Na cobertura de 2004, essa tentativa é mais tímida, mas, proporcional a todo o material produzido à época.
12 anos depois… O Jornalismo maduro
O mês era julho de 2014. A cidade francesa de Nice estava em festa por conta do feriado da Bastilha, quando de repente o motorista de um caminhão resolveu arremessar o seu carro contra pedestres. 86 pessoas morreram e não demorou até que o Estado Islâmico assumisse a autoria do ataque. A cobertura do atropelamento em Nice foi bem mais rica. Fotos, vídeos e animações, mostrando, por exemplo,o trajeto percorrido pelo caminhão traz ao leitor uma perspectiva mais próxima da realidade.
A humanização do jornalismo também fica mais evidente nos relatos do atropelamento de Nice por conta dos relatos de pessoas que estiveram lá e sobreviveram. O tempo passou e a BBC aprendeu a explorar melhor os recursos online mas, o cuidado com a apuração, divulgação e sensibilidade ao construir o texto, e por texto entenda-se mensagem jornalística, permanece o mesmo.