Como derrubar Dilma Rousseff em 3, 2,1…
- 11 de novembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Os veículos de comunicação se tornaram verdadeiros circos e as notícias assumem diferentes personagens no picadeiro. A preocupação não é mais a de passar a verdade para o povo. O importante é tonar a notícia uma novela, que comova o publico e que o faça querer ver o próximo capítulo.
Luciana Ferreira
Vivemos em uma sociedade extremamente imagética, onde uma imagem fala mais que mil palavras. A dinamicidade de um mundo cada vez mais globalizado leva as pessoas a consumirem tudo muito rápido, inclusive a informação. O texto escrito vem sendo gradativamente substituído por figuras com o poder não apenas de passar uma mensagem, mas de construir ou desconstruir o perfil de uma pessoa. E é justamente isso o que a mídia brasileira tem feito com a presidente Dilma Rousseff.
Ao que parece,a mídia declarou abertamente guerra contra a reeleição da presidente em 2014. Mesmo ganhando, Dilma não deixou de estar na mira da imprensa. De acordo com o cientista político João Feres Júnior, houve “um pronunciado viés anti-Dilma”. Desde o gasto exorbitante com jato particular (segundo o jornal Gazeta do Povo a petista percorreu,em apenas 18 dias de campanha no 2° turno de 2014, 16,4 mil KM) até os inúmeros escândalos do Partido dos Trabalhadores, tudo foi motivo para que a imagem da presidente fosse sendo velozmente desconstruída.
Os grandes veículos de comunicação ( O Globo, Folha de São Paulo, Estadão, Veja) passaram a realizar a cobertura completa de diversos escândalos envolvendo o PT. Somente entre os meses de março e dezembro de 2014, a semanária Veja apresentou mais de 20 capas relacionadas ao governo Dilma. A maioria destas mostram caricaturas da presidente.
Um exemplo dessas matérias, é a revista de 2 de abril que apresenta Dilma submersa em um poço de petróleo. A revista ironiza o fato de que quanto mais a presidente sobe, mas o valor da Petrobras desce. A semanária ainda apresenta um gráfico irônico no dia 18 de março. O título: “rumores de queda de Dilma na disputa eleitoral fazem subir em 3% as ações” (da Petrobras). Em menos de 20 dias, uma nova pesquisa revelou que a acentuada queda da popularidade da presidente, aumentaria em 8% as ações da estatal. Manipulação ou informação?
Nem o “idolatrado, salve, salve” ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva escapou das sátiras dos veículos de comunicação. Em diversos momentos sua imagem é atrelada a de Dilma, bem como de outros membros do PT envolvidos em escândalos, a exemplo do mensalão.
Além de lançar seus dardos inflamados na candidata Dilma Rousseff, e se aproveitar dos escândalos para tentar tirar o PT de campo, a mídia cuidou ainda de elevar os demais candidatos. Marina Silva, que por um “azar” da vida assumiu a candidatura do Partido Socialista Brasileiro (PSB) no lugar de Eduardo Campos, foi a priori apresentada como uma vítima indefesa dos concorrentes. Por um momento parecia até que a representante do partido verde iria abafar o vermelho cor de sangue do partido que prevalecia no poder há 12 anos.
Aécio Neves mantinha a aparente hegemonia entre a elite brasileira e era defendido pela mídia partidarista. O candidato foi apresentado, “discretamente”, pelos veículos de comunicação como um concorrente a altura de Dilma. E não é de ver que a aclamação da mídia resolveu? Marina que estava em segundo lugar nas pesquisas, foi “atropelada” por Aécio, que nadou, nadou, mas morreu na praia. Resultado: não sabemos como, mas Rousseff ganhou e a mídia não conseguiu levar avante sua campanha “Fora Dilma”.
Toda esse intento midiático lembra mais uma telenovela com mocinho, bandido, drama e capítulo do dia seguinte. O autor Guy Debord foi o primeiro a explorar o conceito a que ele chamou de Sociedade do Espetáculo. De acordo Debord, vivemos em uma sociedade onde se busca a realidade no reino das imagens e não mais no sentido da própria verdade. “Pela mediação das imagens e mensagens dos meios de comunicação de massa, os indivíduos abdicam da dura realidade dos acontecimentos da vida, e passam a viver num mundo movido pelas aparências e consumo permanente de fatos, notícias, produtos e mercadorias”.
Os veículos de comunicação se tornaram verdadeiros circos e as notícias assumem diferentes personagens no picadeiro. A preocupação não é mais a de passar a verdade para o povo. O importante é fazer da notícia uma novela, que comova o publico e que o faça querer ver o próximo capítulo. Consumir, eis a palavra que dominou o jornalismo no Brasil. E sendo a política um assunto tão polêmico e debatido, não poderia ficar fora de toda essa epopeia.
A intenção com esse texto não é defender a atual presidente ou o partido que ela ocupa. Muito menos apontar os podres do governo brasileiro que possivelmente não caberia em alguns mil caracteres. O que se pretende é questionar até onde vai o poder manipulador da mídia por meio das imagens. E, além disso, salientar ao leitor atento sua nítida postura passiva diante os meios de informação, que mastiga as notícias, cria uma falsa realidade e lança goela abaixo do povo.
A propósito, você tem argumentos concretos para abominar Dilma Rousseff, ou é mais uma marionete nas mãos da mídia que constrói e desconstrói algo sempre que deseja?