Humor: saída de emergência
- 11 de novembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Defensores e opositores da presidente fizeram do Facebook uma arena. As armas? Os aparentemente inofensivos memes. Engraçados, mas que levam fragmentos de verdades ao receptor da mensagem.
Thamires Mattos
Para o Dicionário Oxford da língua inglesa, um meme pode ser “uma imagem, um vídeo, um trecho de texto, etc.” que é rapidamente passado de um usuário da Internet para outro, frequentemente com mudanças sutis em ordem a deixá-lo humorístico”(tradução livre de http://www.oxfordlearnersdictionaries.com/us/definition/english/meme?q=meme). Mas, se você está lendo esse texto pois clicou em algum link no Facebook, deve estar familiarizado com a teoria e a prática de um meme. Esse tipo de conteúdo é facilmente viralizado pelas timelines alheias.
Como bom internauta, você se engajou com as piadas durante os debates presidenciais de 2014 (mesmo sem saber direito o que eram aquelas imagens e o ex-candidato Eduardo Jorge respondendo “quero” para todas as perguntas). Ainda antes, o histórico 7 a 1 da Alemanha contra o Brasil no Mineirão durante uma semifinal de Copa do Mundo fez a rede social perder as estribeiras. As páginas humorísticas (e “sérias” também) foram “à loucura” com centenas de memes ridicularizando a atuação da Canarinho. A presidente Dilma Rousseff aparecia em diversas imagens, e sua “fala” mais difundida foi: “‘Cabô’ Copa, ‘cabô’ tudo! Eu que mando nesse país!”.
Em 2015, a piada continuou. Defensores e opositores da presidente fizeram do Facebook uma arena. As armas? Os aparentemente inofensivos memes. Engraçados, mas que levam fragmentos de verdades ao receptor da mensagem. A página “Dilma Bolada” criada pelo publicitário Jeferson Monteiro defendeu a presidente durante as eleições do ano passado. Os bordões “Dilmãe”, “Mamãe ama vocês” e “Se reclamar, vai ter mais” foram marcas registradas dos memes até o final de setembro. Nessa época, a agência que pagava Monteiro decidiu não renovar contrato com o PT. O criador da página estava decepcionado com a Presidente. “Trocou o governo pelo cargo”, afirmou em seu perfil no Facebook. Mesmo assim, as mensagens postadas em “Dilma Bolada” continuam tendo o mesmo viés – só que agora, sem Dilma.
Durante os protestos pró-impeachment da presidente em 2015, um meme se destacou entre os “defensores”: a imagem era de uma panela fritando coxinhas, e a legenda trazia a mensagem “Isso é o que estarei fazendo durante os protestos”. “Coxinhas” são os apelidos dados aos defensores da direita.
Do outro lado da moeda, os memes também são o carro-chefe dos “comícios online”. “Nem comunismo ou socialismo. Nossa onda é o corru-PT-ismo”, é a mensagem embutida em uma foto de Lula e Dilma conversando. Uma imagem do perfil da presidente com nariz aumentado por edição a compara com o personagem Pinóquio. Durante os debates presidenciais, a imagem da presidente na rede Bandeirantes de Televisão circulou com os dizeres: “No que se refere a internet, os memes tão nota 10” (sic). Em outro meme, a presidente fala: “se for reeleita, vou criar o Bolsa Direito de Resposta” (uma alusão aos constantes pedidos para réplicas nos debates). Durante a posse de seu segundo mandato, Dilma foi ridicularizada ao ponto de ter sua roupa comparada com um cobertor de bujão de gás e a “saia” dos garrafões de água. Os memes do momento tem, como temáticas gerais, a alta do dólar e as afirmações confusas da presidente. “Dobrar a meta” virou vocabulário do dia-a-dia. Em 12 de outubro, as timelines ficaram cheias de declarações de uma Dilma agradecida a “imagem oculta” na vida das crianças – os cachorros.
Decoramos bordões e rimos das piadas. O que não percebemos é que mesmo brincadeiras, quando levadas para a política, são enviesadas. No Facebook, ninguém brinca de ser respeitoso e ter alteridade quanto às convicções de outros usuários. O humor não é uma saída de emergência para o Brasil, e sim uma válvula de escape que está com os dias contatos. Afinal, a ignorância política, um dia, perde a graça.