Barões de uma mídia empresarial
- 11 de novembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Enquanto os barões da mídia puderem mandar e desmandar na opinião pública, haverá construções e desconstruções de pessoas públicas
Daniela Fernandes
A representação de Dilma pela mídia confirma que todo meio de comunicação possui uma opinião a ser defendida, seja ela benéfica ou não para a sociedade. O que vale de fato é o interesse da empresa. O objetivo deste texto é expor a manipulação dos aspectos físicos e discursivos da atual Presidente da República – Dilma Rousseff – na revista Veja .
O envolvimento da mídia com as questões políticas não é algo recente. Se, hoje, a imagem, a identidade e a reputação de Dilma estão enfraquecidas é porque boa parte dessa construção foi bem elaborada por Veja.Na matéria “Um ano após a eleição, 7 promessas ‘furadas’ de Dilma” exibida no dia 26/10/2015, fica claro, desde o título, a posição da semanária com relação as propostas políticas da presidenta. O texto informativo é curto, porém contém algumas expressões adjetivadas, como “desastrosa articulação política”. Ao longo da exposição das promessas o autor utiliza de ironia. Um dos intertítulos da matéria é “Inflação sob controle” e na continuação do texto é mostrada a taxa “7,64%, maior patamar desde 2003”. Sabe-se que os donos e leitores de Veja não apoiam o governo petista e, dessa forma, seria mais coerente comparar o índice inflacionário do país com a época que o governo de oposição estava no poder, que – a título de curiosidade – era 12,53%.
O portal de Veja na internet dispõe de recursos como o vídeo. Em um deles, intitulado “O aluno ex-comuna de Dilma que adora avião e odeia manifestação”, Fernando Pimentel é caracterizado como petista com poder que odeia liberdade de expressão e tem o sonho de acabar com as manifestações de rua. O vídeo exibido dia 25/10/2015 é introduzido da seguinte forma: “O personagem da semana é um político dos grandes, é do PT e, como a maioria dos petistas, está encrencado. Ele é chegado até demais em Dilma Rousseff. Estudou com ela que foi uma forma de ‘professorinha’ dele em aulas de marxismo. O moço que já foi uma espécie de super comunista radical agora aproveita muito bem as benesses do capitalismo. Adora avião, ternos de grife, vinhos caros, joias para presentear pessoas queridas. Ele está encrencado na Operação Acrônimo e tem amigos com um passado ‘pra’ lá de suspeito. Bem dizem por aí, diga-me com quem andas e eu te direi quem és”.
Dilma Rousseff tem seu nome vinculado ao governador de Minas Gerais a fim de ser culpada pelas decisões e escolhas de seus companheiros de partido. Veja não apenas faz ligações negativas de Dilma com políticos acusados de transgredirem a lei e supostamente traírem os cidadãos brasileiros, mas também cria a falsa ideia de que petistas não podem desfrutar de benefícios como transporte de avião, vinhos, etc. O resultado da disseminação dessa ideia são perguntas acusatórias feitas pela classe média do tipo “é de esquerda, mas tem iPhone?”. Bom, caso você seja adepto das políticas esquerdistas, ignore, ou entre no jogo e pergunte “é de direita, mas recebe décimo terceiro?”.
Outro artifício da revista é entrevistar políticos e ex-políticos, a exemplo de Fernando Henrique Cardoso, para falar sobre a atuação da presidenta e fazer juízo de valor diante de suas ações. Na matéria “FHC e Aécio dizem a jornais argentinos que Dilma já não governa o país” do dia 18/10/2015, a linha fina é um desabafo do ex-presidente da República: “seria melhor para a história e para ela dizer: ‘eu renuncio’”. Uma prova de que os tucanos não se recuperaram da derrota nas urnas?
O que acontece hoje em Veja é um abuso da liberdade de imprensa que se exacerbou devido ao negativo resultado eleitoral para o PSDB no ano de 2014. Nessa guerra midiática vale tudo para manipular os leitores. A tática de factóides, mentiras e distorção de informações têm dado certo, haja vista que o público, que em sua maioria é de classe média, nada mais é do que mero reprodutor dos fatos noticiados, sem que estes sejam comprovados.
Veja continuará seu trabalho e a guerra contra Dilma somente diminuirá ou acabará quando os meios de comunicação forem democratizados. Enquanto os barões da mídia puderem mandar e desmandar na opinião pública, haverá construções e desconstruções de pessoas públicas. O que deve preocupar a presidenta, então, não é necessariamente sua impopularidade advinda do clima de derrotismo imagético divulgado na mídia. A verdadeira preocupação deve ser com a permanência da mesma no poder. O Palácio do Planalto deveria começar a se preocupar mais em blindar o jogo de interesses próprios de cada veículo de comunicação para que os brasileiros possam ter acesso mais fácil as notícias não manipuladas e, assim, fazerem seu próprio julgamento em relação à política.