Que ódio é este?
- 27 de outubro de 2015
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- Thamires Mattos
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Nos últimos meses tenho sido sobrecarregada com informações a respeito do fluxo migratório que tomou conta da Europa e Oriente Médio. Uma imigração de refugiados, diga-se de passagem. Creio que, sequer, tal fluxo pode ser classificado como “imigração”, neste caso. Fato é que o mundo anda as voltas com uma movimentação territorial provocada por fatores sem perspectivas de controle. Conflitos violentos no Oriente Médio e Asia, condições sub-humanas de vida em países africanos, no Haiti e em demais países latino-americanos, crise econômica que se alastra por todos os cantos do planeta. Dadas as condições, um ambiente fértil para a proliferação do “discurso de ódio ao estrangeiro”, vulgo xenofobia.
Mesmo entendendo o contexto histórico-social que provê a insurgência deste discurso, ainda fico sem palavras por presenciar posturas tão arcaicas e desumanas, comportamentos tão destituídos de respeito ao próximo quanto as atitudes (reais e virtuais) de um mundo esclarecido e globalizado em relação a refugiados e imigrantes em todas as partes do planeta azul. A questão dos Sírios na Europa é apenas uma estrelinha na constelação de atividades segregacionistas protagonizadas por raças que, pretensamente, se autodenominam superiores. A Europa já foi palco de segregação grega aos povos por eles dominados, do nazismo, do rechaço aos países desmembrados da URSS. Por outro lado, imigrantes protestantes, rechaçados pelo velho continente e estabelecidos em territórios americanos, pouco depois de fugirem da perseguição e ódio promoveram o genocídio indígena. Hoje perpetram atos de segregação com latinos e muçulmanos que “invadem” a terra “sagrada”. Brasileiros, longe de se safarem deste comportamento (considerando sua origem multi-étinica), adoram expressar discurso de ódio contra irmãos latino-americanos em terras tupiniquins.
O que me pergunto, constantemente, é: que ódio é este? Que tipo de sentimento é este que nos faz animais, que nos leva de volta e sempre a uma espécie de barbárie, que nos rouba as utopias e nos coloca em estado de selvageria? Onde está a qualidade racional (aquela que nos permite colocar-mo-nos no lugar do outro) e que nos diferencia de todas as outras espécies animais? De fato, algumas espécies são muito mais humanas que nós, no que se refere à questão de aceitar o “estranho” dentro do ninho.
Que tipo estranho de vírus é este que domina nossas células, principalmente em tempos em que deveríamos cultivar mais fortemente um espírito de tolerância?
A edição do Canal nesta quinzena pretende explorar a questão dos novos fluxos migratórios no mundo e o crescimento do discurso de “ódio ao estrangeiro”. Nossos textos procuraram se aprofundar nas razões para a insurgência destes comportamentos na atualidade e se há (ou não) potencialização do sentimento por meio da cobertura midiática. Nossa esperança é que a discussão deste tema abra novas fronteiras dentro da mente de nossos leitores. Um passo de formiga, quem sabe, na desconstrução deste discurso virulento e doentio.
Seja bem-vindo!
Andréia Moura
Editora-chefe do Canal da Imprensa