O preconceito mora ao lado
- 27 de outubro de 2015
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- Thamires Mattos
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A separação entre as regiões da América faz com que alguns países se sintam superiores com relação a seus vizinhos. Situação provocada por conta da colonização distinta imposta a cada região. O problema se intensifica quando casos de xenofobia se tornam gritantes
Luciana Ferreira
Difícil aceitar que irmãos do mesmo sangue não consigam conviver juntos sob um mesmo teto. Que um odeie tanto o outro que faça de tudo para dificultar a convivência a ponto de, se possível, expulsá-lo de sua residência. Essa é uma situação corriqueira que acontece em diversos lugares do mundo e que exemplifica o que vem ocorrendo no continente americano.
Podemos considerar que temos cinco divisões em uma única América. Quanto ao aspecto físico, o continente divide-se em três (América do Norte, América Central e América do Sul), já com relação à divisão humana em duas (América Anglo-Saxônica e América Latina). Essa divisão seria culturalmente saudável se não fosse a forte tendência de segregação.
Infelizmente, a separação entre as regiões da América fez com que alguns países se sentissem superiores com relação ao seu “país-irmão”. Isso se deve até mesmo por conta da colonização distinta pela qual cada país passou. Todavia, o problema se intensifica e toma outros rumos quando a xenofobia assume a cena. Assim outras nações, que se consideram protagonistas, começam a menosprezar aquelas que por muitos são consideradas como coadjuvantes.
Já que EUA é a grande potência mundial, vamos observar como se prefigura a questão do preconceito contra latino-americanos na terra do Tio Sam . Será que ele existe? Seriam os americanos um povo totalmente preconceituoso e contra qualquer cultura diferente que adentre as fronteiras de seu país? E a mídia, como trabalha este assunto?
Os Estados Unidos recebem muitos imigrantes de todas as partes do mundo, mais principalmente das Américas. Dados divulgados pela ONU mostram que o país continua sendo o queridinho quando o assunto é sair de sua terra natal em busca de melhores condições de vida. Os EUA “acolhem”, por ano, cerca de um milhão de pessoas e é o país com maior número de imigrante vivendo dentro de suas fronteiras (45,8 milhões). Informação divulgada pelo site de notícias OPERAMUNDI.UOL.BR . Destes, calcula-se que 11,3 milhões estão vivendo ilegalmente no país.
O jornal Folha de São Paulo , recentemente, veiculou uma reportagem que mostrava grupos de “patriotas” norte-americanos que lançaram vídeos agressivos na internet acusando os imigrantes de serem a raiz para todos os problemas do país. Segundo eles, a violência, o desemprego são consequências da vinda de pessoas de outras nações para territórios estadunidenses. Os mais atacados por esses vídeos eram os vizinhos mexicanos.
A mídia tem se concentrado em apresentar os discursos ofensivos do candidato à presidência da republica dos EUA, Donald Trump, contra o México. A saga xenofóbica contra os mexicanos por parte do “magnata”, como é chamado pelo jornal El País (Espanha), se intensificou em junho. Nesse período, Trump anunciou sua candidatura e afirmou que o México é responsável por enviar aos EUA “drogas” e “estupradores”. Acrescentou ainda, que o país manda aos Estados Unidos todos os seus problemas por meio de pessoas de má índole.
Na reportagem intitulada Donald Trump insulta mexicanos ao anunciar sua candidatura , o jornal espanhol acrescenta que o “multimilionário” afirmou que, caso chegue à Casa Branca, irá deportar os imigrantes ilegais do país (principalmente os mexicanos). Além disso, é proposta de seu governo construir um muro entre a fronteira do México com os EUA, a fim de impedir a entrada ilegal dessas pessoas. Detalhe: a fronteira entre os países vizinhos tem “apenas” 3.142 quilômetros!
Não bastasse essa política anti-imigratória, El país publicou outra matéria, no dia 26 de agosto, onde Trump expulsa de uma entrevista coletiva o famoso jornalista mexicano Jorge Ramos do canal Univisión . O profissional tentou questionar como o candidato iria fazer para executar seus planos de enviar para casa todos os imigrantes e se seria fácil construir o muro entre as fronteiras, mas foi retaliado por Trump que pediu que o tirassem da sala.
E a odisseia de Trump contra os Mexicanos não para por ai. Em resposta aos comentários do candidato, o secretário de Relações Exteriores, José Antonio Meade, afirmou no jornal mexicano El Universal , que Trump desconhece a contribuição que os imigrantes mexicanos têm nos EUA. Meade destaca que os ataques do candidato refletem o preconceito e o não reconhecimento do trabalho dos mexicanos que ajudam a girar a economia norte-americana.
Como reação a postura do republicano, emissoras de TV, tanto americanas como mexicanas, tem cortado o vínculo com o Trump. As primeiras a realizarem tal ato foram as redes norte-americanas Univisión e NBC . Posteriormente, foi a vez do segundo homem mais rico do mundo, Carlos Slim, e da rede mexicana Televisa também romperem os laços.
Se por um lado o El País enfatiza com veemência os discursos xenofóbicos de Donald Trump, por outro, brasileiros que vivem na ponta norte do continente americano afirmam descontentamento ao verem compatriotas seus falando extremamente mal dos estadunidenses. No blog brasileiro vivendonoseua.blogspot.com.br , um brasileiro que vive nos Estados Unidos afirma que “foi comprovado até estatisticamente que o brasileiro é muito mais anti-americano que o americano anti-brasileiro”.
Segundo o blogueiro, como em todos os lugares do mundo o preconceito é latente e nos Estados Unidos não é diferente. Todavia, com relação aos brasileiros, ele afirma que em sua grande maioria são “baderneiros” e que quando chegam aos EUA querem levar desordem para o país dos outros. Ele destaca que os norte-americanos gostam de latino-americanos, quando estes são educados e cuidam do lugar em que se inserem no novo país.
Enfim, desde que o mundo é mundo sempre houve e sempre haverá opiniões adversas, principalmente quando o assunto é tão polêmico, constrangedor e inaceitável como o “discurso de ódio ao estrangeiro”. A mídia sempre irá assumir seu papel de “apresentar”os alardes dos atos xenofóbicos, mas somente aqueles que lhe interessarem, ou seja, que envolverem personalidades de renome ou que se encaixarem ns linha editorial.
O fato é que, vindo de uma grande representatividade da nação ou de uma celebridade desse povo, o preconceito contra o diferente sempre será inaceitável. E ao que parece isso está longe de acabar, pois a xenofobia está enraizada nas pessoas. Além disso, mais uma vez a busca por audiência leva a mídia a desconsiderar casos do cotidiano de pessoas comuns e destacar apenas casos “glamourizados”. Sempre dando preferência a pessoas famosas que foram injustiçadas. De matéria em matéria, de cobertura em cobertura, a informação vai rotacionando de forma a abafar o sentimento de indignação com relação ao preconceito. Mas, só um momento, sobre o que nós estávamos discutindo mesmo?